segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Pai Omolu



Tatá Omulu, enquanto força cósmica e mistério divino, é a energia que se condensa em torno do fio de prata que une o espírito
e seu corpo físico, e o dissolve no momento do desencarne ou passagem de um plano para o outro. Neste caso ele não se apresenta
como o espectro da morte coberto com manto e capuz negro, empunhando o alfanje da morte que corta o fio da vida. Esta descrição
é apenas uma forma simbólica ou estilizada de se descrever a força divina que ceifa a vida na carne.

Na verdade, a energia que rompe o fio da vida na carne é de cor escura, e tanto pode parti-lo num piscar de olhos quando a
morte é natural e fulminante, como pode ir se condensando em torno dele, envolvendo-o todo até alcançar o espírito, que já entrou em
desarmonia vibratória porque a passagem deve ser lenta, induzindo o ser a aceitar seu desencarne de forma passiva.

O orixá Omulu atua em todas as religiões e em algumas é nominado de "Anjo da Morte" e em outras de divindade ou "Senhor
dos Mortos".

No antigo Egito ele foi muito cultuado e difundido e foi dali que partiram sacerdotes que o divulgaram em muitas culturas de
então. Mas com o advento do Cristianismo seu culto foi desestimulado já que a religião cristã recorre aos termos "anjo" e "arcanjo"
para designar as divindades. Logo, nada mais lógico do que recorrer ao arquétipo tão temido do "Anjo da Morte", todo coberto de preto
e portando o alfanje da morte, para preencher a lacuna surgida com o ostracismo do orixá ou divindade responsável por este momento
tão delicado na vida dos seres.

O culto a Tatá Omulu surgiu entre os negros levados como escravos ao antigo Egito, que o identificaram como um orixá e o
adaptaram às suas culturas e religiões. Com o tempo, ele foi, a partir desse sincretismo, assumindo sua forma definitiva, até que
alcançou o grau de divindade ligada à morte, à medicina e às doenças. Já em outras regiões da África, este mistério foi assumindo
outras feições e outros orixás semelhantes surgiram, foram cultuados e se humanizaram. "Humanizar-se" significa que o orixá ou a
divindade assumiu feições humanas, compreensíveis por nós e de mais fácil assimilação e interpretação.

Tatá Omulu não vibra menos amor por nós do que qualquer um dos outros orixás e está assentado na Coroa Divina, pois é um
dos Tronos de Zambi, o Divino Criador.

Atotô, meu pai!

TRECHOS EXTRAÍDOS DO LIVRO "O CÓDIGO DA UMBANDA" DE RUBENS SARACENI; E QUE SE ENCONTRA, TAMBÉM, NO SITE GUARDIÕES DA LUZ.

CIGANO TRISTE



Cigano zingaro e gira mundo
Que conhece esse mundo de cór
Canta com sua calma
Canta com sua alma
Para que o mundo seja melhor

Canta, canta cigano
Toca no teu violão
A mais bela canção
Pois a verdadeira alma é o coração

Canta,canta cigano triste
Que não sabe porque existe
Nem conhece sua verdadeira morada
Só conhece esse mundo de fantasia
Que já não tem mais primazia
É só o nada q leva a nada

Eu sei porque da sua tristeza
É porque a mãe natureza
Esta em transformação
E os valores estão em liquidação

Não fique triste por um nada
Pois tua verdadeira morada
O teu mundo original
É um mundo superior
É um mundo de luz e de amor
É o mundo racional.

www.universoemdesencanto.com.br

CALMA E AUXÍLIO‏



Trabalha sempre, mas não desprezes a calma em que te retomes a fim de pensar com acerto.

Isso é da própria natureza.

O rio para mover a usina do progresso exige a represa em que as águas estacionam no impacto de forças tecnicamente organizadas.

Conserva a entrada do coração acessível a todos os companheiros que te cerquem, tantos deles agoniados, a te rogarem concurso e consolação.

Que o teu sorriso seja o porteiro dos teus sentimentos, encorajando-lhes as energias.

Em torno de ti, enxameiam os tristes, os torturados, os infelizes, os desorientados e todos aqueles que, por falta de fé, se transviaram no torvelinho do desespero.

Repontam de tua própria casa do teu grupo de serviço, do bairro em que reside e da cidade em que te situas.

Sê para eles um refúgio de paz e de esperança.

Aprende a ouvir com paciência para que possas esclarecer com discernimento e serenidade.

Se te afliges com o problema que te trazem, entrega a questão a Deus e mantém-te disponível, para que não te prives da oportunidade de auxiliar.

Guarda a diligência sem pressa e oferece a todos os que te busquem o reconforto de que necessitem, a fim de seguirem adiante.

Assim compreenderás, com a bênção da calma em ti mesmo, que prosseguirás com o ensejo de construir incessantemente no bem dos semelhantes, reconhecendo que o tempo, na vida de cada um de nós, é uma doação preciosa de Deus.

Se aceitaste Jesus por mestre da vida, trazes contigo a chama capaz de acender a fé nos companheiros que vagueiam no mundo, à maneira de lágrimas apagadas.

Prossegue amando.

pelo Espírito Meimei - do Livro Palavras Do Coração – Psicografia: Francisco Cândido Xavier.

Jesus, o Diabo e a Umbanda



Por Alexandre Cumino

Jornal de Umbanda Sagrada - Outubro de 2008


Jesus se recolheu no deserto por 40 dias e neste período foi tentado pelo diabo três vezes. Vejamos o que fala a Bíblia (Matheus 3-4):

"Então Jesus foi levado pelo espírito para o deserto, para ser tentado pelo diabo, 3X:

1 - Se és filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães.

- Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.

2 - Se és filho de Deus atira-te para baixo, porque está escrito:

Ele dará ordem a seus anjos a teu respeito, e eles te tomarão pelas mãos, para que não tropeces em nenhuma pedra.

- Também está escrito: Não tentarás o Senhor teu Deus.

3 Mostrando todos os reinos do mundo, fala o tentador:

- Tudo isto te darei, se, prostrado, me adorares.

- Vai-te Satanás, porque está escrito:

Ao Senhor teu Deus adorarás e só a ele prestarás culto".

Este é o poder da Bíblia, da palavra e de Jesus, reunir muitos ensinamentos em poucas palavras, ensinamentos que vão além do tempo e da cultura, são vivos até hoje.

Que tal uma reflexão para a Umbanda?

Podemos começar com o recolhimento de Jesus, nos mostrando que há momentos que se faz necessário nossos recolhimentos para uma reflexão sobre a vida e para alcançar níveis mais elevados de consciência, através de provas e iniciações.

Quem é o diabo?

Pode ser muitas coisas, desde uma entidade, um anjo caído, um ser que representa o mal, uma outra pessoa ou sim­plesmente o nosso lado som­brio, nosso ego , nossas pai­xões e desejos que devem ser vencidos.

Mas a melhor reflexão cabe às três tentações, pois Cristo rejeita exatamente o que médiuns e consulentes pedem para alcançar através da Umbanda.

Vejamos:

a.. Transformar pedra em pão

Quantos esperam de­mons­trações de poder para solucionar sua "fome" de for­ma instantânea.

a.. Atira-te para baixo

Muitos esperam da Um­banda proteção sobre humana para fazerem o que bem entenderem.

a.. Tudo isto te darei

Quanto a esta o diabo nem precisa oferecer é tudo o que boa parte espera "ganhar" com a Umbanda, os reinos deste mundo, esquecendo-se que o que está acima do altar não é uma "barra de ouro" e sim o "ouro da vida".
Esta é uma crítica para refletirmos qual o papel da religião em nossa vida,
que com certeza não é produzir milagres, nem satisfazer nossos desejos.
O ser humano passa anos criando e ali­mentando seus problemas e complica­ções,
depois espera que um caboclo ou preto-velho o resolva num estalar de de­dos.
O ser humano se mostra descrente e exige um milagre para sair desta sua condição de desilusão da vida.
O ser humano não quer ser humano, quer ser Deus - no sentido egoísta da pa­la­vra,
pois todos somos deuses - o mito do anjo caído diz respeito ao próprio ser hu­mano, que dá ouvidos á suas vaidades, desejos e paixões.
A religião é um convite para conhecermos melhor a nós mesmos, nos espiritualizarmos e buscar uma vida feliz independente do que temos ou possuímos.

Alexandre Cumino

A Culpa é Sua !!!



"A verdade surge mais facilmente do erro do que da confusão" - Francis Bacon -


Por Rodrigo Queiroz

Quarta-feira, 8h50min, ple­no trânsi­to, eu já es­ta­va pen­sando que este era um dia que começou errado... aí toca o tele­fone. Do outro lado, uma voz gritante e desesperada anuncia:
- Rodrigo, o Templo foi arrombado! - gritou.
"Pronto, mais essa!" - pensei... - Ok.
- esta foi a resposta.
Afinal, além de tudo, nem me desesperar eu podia, uma vez que tinha que passar tran­qüilidade para a outra pessoa.
Imediatamente mudei minha rota indo ao encontro do Templo.
No cami­nho refletia sobre o caso e minha men­te trazia à luz muitas lembranças:
"Dos bens físicos (materiais) cuidem vocês, nós cuidamos do espírito"
- res­posta do Sr. Guardião Tranca Ruas a um filho de fé quando seu carro foi as­sal­tado em frente ao Templo, e detalhe, o alarme estava desligado e a porta aberta; ele queria que Exu tomasse conta!
Lembrando disso, ainda achei graça.
Enfim, muitas vezes nos depara­mos com essas situações de "deses­pero" e,
ou jogamos a culpa no Exu ou em Deus, sei lá, em algo ou alguém que não seja nós mesmos.
Particular­mente, senti um pouco de vergonha,
pois venho falando isso há tempos com a comunidade,
sabia que a porta era frágil (muito frágil).
No entanto, vamos deixando para amanhã o que nos cabe fazer agora.
Venho compartilhar isso com você, leitor, para lhe questionar:
Aquilo que está errado na sua vida ou te pegando de surpresa, não é culpa sua?
Quantas vezes você está sendo "ata­cado" ou prejudicado pelo simples fato do comodismo ou de manter sua guarda baixa?
Até que ponto você faz por onde merecer a sustentação Divina e garantir a harmonia do cotidiano?
É fato que existe uma separação entre o que te cabe e o que cabe ao Divino, mesmo o Divino podendo tudo.
Podemos alegar problemas sociais, culturais, políticos para justificar as infinitas atrocidades do dia-a-dia, mas tudo bem, o que lhe cabe?
Neste meu caso deveria ter feito o que fiz depois da invasão.
Mas já sabia que isso deveria ter sido feito. Era destino? Não creio.
Contudo, lembrei de um causo de Preto Velho mais ou menos assim:
"Certa noite chega uma consulente aos pés do Preto Velho e questiona por­que que Deus tirou a vida do seu pai,
sendo que ele era tão temente a Deus, se para tudo que ia fazer, orava a Deus.
- O que aconteceu fia? - perguntou o Nêgo.
- Saímos de viagem e meu pai parou no acostamento para rezar, pedindo a Deus que tudo saísse bem na viagem e, quando ele saiu do acostamento, não viu o caminhão, que bateu no carro e matou meu pai querido.
- É fia, vosso pai se preocupou de­mais com as coisas do Céu e esqueceu da Terra."

Pense nisso!

Saravá,

Rodrigo Queiroz

Zélio de Moraes por Zélio de Moraes - JUS 2008


POR ALEXANDRE CUMINO

Mês que vem a Umbanda co­memora seu primeiro cen­tenário,


que tem como marco a incorpo­ração do Caboclo Sete Encruzi­lhadas em seu médium Zélio Fernandino de Mo­raes (15/11/1908)


e a fundação do primeiro templo de Umbanda (Tenda Es­pírita Nossa Senhora da Piedade).


Em homenagem e come­mo­ração ao Centenário da Umbanda é que o Jornal de Umbanda Sa­gra­da


inicia nesta edição a publi­cação de repor­tagens,


matérias e textos que remontem a Memória da Um­banda,


mostrando assim que Umbanda tem História.


Para dar início, voltamos até o ano de 1972,


repro­duzindo uma reportagem em que o próprio Zélio de Moraes con­ta sua história,


de como tudo co­me­çou na Umbanda.


Con­sideramos importante este trabalho para a religião,


pois boa par­te do material que tivemos aces­so nestes anos é desconhe­cido pela maioria dos Umbandistas.


Também esperamos nos pró­ximos meses publicar partes de tex­tos dos primeiros autores Um­bandistas como Leal de Souza, Lourenço Braga, Aluízio Fontenele, Florisbela Franco, Yokaanan, Ca­pitão Pessoa, Benjamim Figuei­redo, João Severino Ramos, João de Freitas, Oliveira Magno, Sílvio Pereira Maciel, Tata Tan­credo, Emanuel Zespo e outros tantos que foram os pio­neiros na literatura umban­dista.


Também esperamos publicar algu­mas das reportagens e entre­vistas com Zélio de Moraes realiza­das pela Sra. Lilia Ribeiro que foi dirigente da TULEF (Tenda de Um­banda Luz, Esperança e Caridade) e responsável pelo boletim MACAIA.


Pedimos ao Caboclo das Sete Encruzilhadas que nos ampare e guie nesta missão que assumimos.


Zélio de Moraes por Zélio de Moraes


Jornal de Umbanda Sagrada - Outubro de 2008


"A Umbanda existe há 64 anos!"


Este é o título da reportagem, com Zélio


de Moraes, feita por Lília Ribeiro, Lucy


e Creuza para a revista Gira da Umbanda, ano 1 - numero 1 - 1972.


A revista foi editada por Atila Nunes Filho e traz na capa a chamada:


EXCLUSIVO: "Eu Fundei a Umbanda"


Reportagem e fotos: Lília Ribeiro, Lucy e Creuza.


Com 82 anos de idade, este homem é considerado por um pequeno grupo de umbandistas "o funda­dor da Umbanda".


Cabelos grisalhos, fisionomia serena e simples, Zélio de Moraes, através do seu guia espiritual,


o Caboclo das Sete Encruzi­lhadas, só sabe praticar o amor e a humil­dade.


"- Na minha família, todos são da mari­nha: almirantes, comandantes, um capitão-de-mar-e-guerra...


Só eu que não sou nada..." - comentava sorrindo Zélio de Moraes, aos amigos que o visitavam, nessa manhã ensolarada.


E a repórter, antes mesmo de se apre­sentar, retrucou:


"- Almirantes ilustres, capitães-de-mar-e-guerra há muitos;


o médium do Caboclo das Sete Encruzilhadas, porém, é um só".


Levantando-se, Zélio de Moraes - ma­grinho, de estatura mediana, cabelos grisalhos, fisionomia serena e de uma simplicidade sem igual - acolheu-me, como se fôssemos velhos conhecidos. Nesse ambiente cordial, sentindo-me completa­mente à vontade, possuída de estranho bem-estar, esquecendo, quase, a minha função jornalística, iniciei uma palestra, que se prolongaria por várias horas, deixando-me uma impressão inesquecível.


Perguntei-lhe como ocorrera a eclo­são de sua mediunidade e de que forma se manifestara, pela primeira vez, o Caboclo das Sete Encruzilhadas.


"- Eu estava paralítico, desenganado pelos médicos.


Certo dia, para surpresa de minha família, sentei-me na cama e disse que no dia seguinte estaria curado.


Isso a foi a 14 de novembro de 1908.


Eu tinha 18 anos.


No dia 15, amanheci bom.


Meus pais eram católicos, mas, diante dessa cura inexplicável, resolveram levar-me à Fede­ração Espírita de Niterói, cujo presidente era o Sr. José de Souza.


Foi ele mesmo quem me chamou para que ocupasse um lugar à mesa de trabalhos, à sua direita.


Senti-me deslocado, constrangido, em meio àqueles senhores.


E causei logo um pequeno tumulto.


Sem saber porque em dado momento, eu disse:


"Falta uma flor nesta mesa; vou buscá-la".


E, apesar da advertência de que não me poderia afastar, levantei-me, fui ao jardim e voltei com uma flor que coloquei no centro da mesa.


Sere­nado o ambiente e iniciados os trabalhos, verifiquei que os espíritos que se apre­sentavam ao videntes como índios e pretos, eram convidados a se afastar.


Foi então que, impelido por uma força estranha, levantei-me outra vez e perguntei porque não se podiam manifestar esses espíritos que, embora de aspecto humilde, eram trabalhadores.


Estabeleceu-se um debate e um dos videntes, tomando a palavra, indagou:


- "O irmão é um padre jesuíta. Por que fala dessa maneira e qual é o seu nome?"


Respondi sem querer:


- "Amanhã estarei em casa deste aparelho, simbolizando a humildade e a igualdade que deve existir entre todos os irmãos, encarnados e desencarnados. E se querem um nome, que seja este: sou o Caboclo das Sete Encruzilhadas".


Minha família ficou apavorada.


No dia seguinte, verdadeira romaria formou-se na Rua Floriano Peixoto, onde eu morava, no número 30.


Parentes, desconhecidos, os tios, que eram sacerdotes católicos e quase todos os membros da Federação Espírita, naturalmente em busca de uma comprovação.


O Caboclo das Sete En­cruzilhadas manifestou-se, dando-nos a primeira sessão de Umbanda na forma em que, daí para frente, realizaria os seus tra­balhos.


Como primeira prova de sua pre­sença, através do passe, curou um para­lítico, entregando a conclusão da cura ao Preto Velho, Pai Antonio, que nesse mes­mo dia se apresentou.


Estava criada a primeira Tenda de Umbanda, com o nome de Nossa Senhora da Piedade, porque assim como a imagem de Maria ampara em seus braços o Filho, seria o amparo de todos os que a ela recorressem.


O Caboclo determinou que as sessões seriam diárias; das 20 às 22 horas e o atendimento gra­tuito, obedecendo ao lema:


"daí de graça o que de graça recebestes".


O uniforme totalmente branco e sapato tênis.


Desse dia em diante, já ao amanhecer havia gente à porta, em busca de passes, cura e conselhos.


Médiuns que não tinha a oportunidade de trabalhar espiritualmen­te por só receberem entidades que se apresentavam como Caboclos e Pretos Velhos, passaram a cooperar nos traba­lhos.


Outros, considerados portadores de doenças mentais desconhecidas revela­ram-se médiuns excepcionais, de incor­poração e de transporte".


Citando nomes e datas, com precisão extraordinária, Zélio de Moraes relata o que foram os primeiros anos de sua ativi­dade mediúnica. Dez anos depois, o Cabo­clo das Sete Encruzilhadas anunciou a se­gunda fase de sua missão: a fundação de sete templos de Umbanda e, nas reuniões doutrinárias que realizava às quintas-feiras, foi destacando os médiuns que assumiriam a direção das novas tendas: a primeira, com o nome de Nossa Senhora da Con­ceição e, sucessivamente, Nossa Senhora da Guia, São Pedro, Santa Bárbara, São Jorge, Oxalá e São Jerônimo.


"- Na época - prossegue Zélio - imperava a feitiçaria; trabalhava-se muito para o mal, através de objetos materiais, aves e animais sacrificados, tudo a preços elevadíssimos. Para combater esses trabalhos de magia negativa, o Caboclo trouxe outra entidade, o Orixá Malé, que destruía esses malefícios e curava obsedados. Ainda hoje isso existe: há quem trabalhe para fazer ou des­man­char feitiçarias, só para ganhar dinhei­ro. Mas eu digo: não ninguém que possa contar que eu cobrei um tostão pelas curar que se realizavam em nossa casa; milhares de obsedados, encami­nha­dos inclusive pelos médicos dos sana­tórios de doentes mentais... E quando apresentavam ao Caboclo a relação desses enfermos, ele indicava os que poderiam ser curados espiritual­mente; os outros dependiam de tratamentos material..."


Perguntei então a Zélio, a sua opinião sobre o sacrifício de animais que alguns médiuns fazem na intenção dos Ori­xás.


Zélio absteve-se de opinar, limi­tou-se a dizer:


"- Os meus guias nunca man­da­ram sacrificar animais, nem permitiriam que se cobrasse um centavo pelos trabalhos efetuados. No Espiritismo não pode pensar em ganhar dinheiro; deve-se pensar em Deus e no preparo da vida futura."


O Caboclo das Sete Encruzilhadas não adotava atabaques nem palmas para marcar o ritmo dos cânticos e nem objetos de adorno, como capacetes, cocares, etc.


Quanto ao número de guias a ser usado pelo médium, Zélio opina:


"- A guia deve ser feita de acordo com os protetores que se manifestam. Para o Preto Velho deve-se usar a guia de Preto Velho; para o Caboclo, a guia correspon­dente ao Caboclo. É o bastante. Não há necessidade de carregar cinco ou dez guias no pescoço..."


Considera o Exu um espírito traba­lhador como os outros:


"- O trabalho com os Exus requer muito cuidado. É fácil ao mau médium dar manifestação como Exu e ser, na realidade, um espírito atrasado, como acontece, também, na incorporação de Criança. Considero o Exu um espírito que foi despertado das trevas e, progredindo na escala evolutiva, trabalha em benefício dos necessitados. O Caboclo das Sete Encru­zilhadas ensinava o que Exu é, como na polícia, o soldado. O chefe de polícia não prende o malfeitor; o delegado também não prende. Quem prende é o soldado que executa as ordens dos chefes. E o Exu é um espírito que se prontifica a fazer o bem, porque cada passo que dá em benefício de alguém é mais uma luz que adquire. Atrair o espírito atrasado que estiver obsedando e afastá-lo, é um dos seus trabalhos.


E é assim que vai evoluindo. Torna-se portanto, um auxiliar do Orixá.


CINQUENTA ANOS


DE ATIVIDADE MEDIÚNICA:


Relembrando fatos passados em mais de meio século de atividade espiritualista, Zélio refere-se a centenas de tendas de Umbanda fundadas na Guanabara, em São Paulo, Estado do Rio, Minas, Espírito Santo, Rio Grande do Sul. A Federação de Um­banda do Brasil, hoje União Espiritista de Umbanda do Brasil, foi criada por deter­minação do Caboclo das Sete Encru­zilhadas, a 26 de agosto de 1939.


Da Tenda Nossa Senhora da Piedade saiam constantemente médiuns de capa­cidade comprovada, com a missão de diri­girem novos templos umbandistas; en­tre eles, José Meireles, na época deputado federal; José Álvares Pessoa, que deixou uma lembrança indelével de sua extraor­dinária cultura espiritualista; Martinho Men­des Ferreira, atual presidente da Congre­gação Espírita Umbandista do Brasil; Carlos Monte de Almeida um dos diretores de culto da T.U.L.E.F.; João Severino Ramos, trabalhando ainda hoje, ativamente, inclusive na Assessoria de Culto do Con­selho Nacional Deliberativo da Umbanda.


Outros, fugindo às rígidas determinações de humildade e caridade do Caboclo das Sete Encruzilhadas, des­virtuaram normas do culto.


Mas a Umbanda, preconizada através da me­diunidade de Zélio de Moraes, difundiu-se extraordinariamente e hoje podemos en­con­trar suas características em tendas modestas e nos grandes templos, como o Caminheiros da Verdade e a Tenda Mirim, nos quais a orientação de João Carneiro de Almeida e Benjamin Figueiredo mantém elevado nível de espiritualidade, no Primado de Umbanda, uma das mais perfeitas entidades associativas da nossa Religião.


Durante mais de cinqüenta anos, o Caboclo das Sete Encruzilhadas dirigiu a Tenda Nossa Senhora da Piedade; após esse tempo, passou a direção à filha mais velha do médium, dona Zélia, aparelho do Caboclo Sete Flechas.


Entretanto, Pai Antonio continua trabalhando, na cabana que tem o seu nome, localizada num sítio maravilhoso, em Cachoeiras de Macacu. O Caboclo manifesta-se ainda em datas especiais, como foi, por exemplo, o 63º aniversário daquela tenda.


Da gravação feita durante a celebração festiva, repro­duzimos para os leitores,


o trecho final da mensagem do Caboclo das Sete Encru­zilhadas:


"A Umbanda tem progredido e vai progredir muito ainda. É preciso haver sinceridade, amor de irmão para irmão, para que a vil moeda não venha a destruir o médium, que será mais tarde expulso, como Jesus expulsou os vendilhões do templo. É preciso estar sempre de pre­venção contra os obsessores, que podem atingir o médium. É preciso ter cuidado e haver moral, para que a Umbanda progri­da e seja sempre uma Umbanda de humil­dade, amor e caridade. Essa é a nossa bandeira. Meus irmãos: sêde humildes, trazei amor no coração para que pela vossa mediunidade possa baixar um espírito superior; sempre afinados com a virtude que Jesus pregou na Terra, para que venha buscar socorro em vossas casas de caridade, todo o Brasil... Tenho uma coisa a vos pedir: se Jesus veio ao planeta Terra na humilde manjedoura, não foi por acaso, não. Foi o Pai que assim o determinou. Que o nascimento de Jesus, o espírito que viria traçar à humanidade o caminho de obter a paz, saúde e felicidade, a humildade em que ele baixou neste planeta, a estrela que iluminou aquele estábulo, sirva para vós, iluminando vossos espíritos, retirando os escuros da maldade por pensamento, por ações; que Deus perdoe tudo o que tiverdes feito ou as maldades que podeis haver pensado, para que a paz possa reinar em vossos corações e nos vossos lares. Eu, meus irmãos, como o menor espírito que baixou à Terra, mas amigo de todos, numa concentração perfeita dos espíritos que me rodeiam neste momento, peço que eles sintam a necessidade de cada um de vós e que, ao sairdes deste templo de caridade, encontreis os caminhos abertos, vossos enfermos curados e a saúde para sempre em vossa matéria. Com o meu voto de paz, saúde e felicidade, com humildade, amor e caridade, sou e serei sempre o humilde CABOCLO DAS SETE ENCRUZILHADAS.


Transcrição completa da entrevista com Zélio de Moraes, feita por Lília Ribeiro, Lucy e Creuza para a revista Gira da Umbanda, ano 1 - número 1 - 1972, pesquisado por Alexandre Cumino e publicado no Jornal de Umbanda Sagrada de Outubro de 2008.


PS.: Foi graças a esta revista, Giro da Umbanda, e a esta entrevista que o Sacerdote de Umbanda Ronaldo Linares tomou a iniciativa de procurar Zélio de Moraes, tornou-se seu amigo e o maior divulgador da mensagem do Caboclo Sete Encruzilhadas em São Paulo.


Foi também com o apoio de Zélio de Moraes que Pai Ronaldo Linares instituiu o curso de Sacerdotes da FUGABC, que já está no 26º Barco (Turma).


O que é confirmado no livro Umbanda Cristã e Brasileira do autor Jota Alves de Oliveira (Ediouro, p.46):


Estivemos com Zélio de Moraes, mais uma vez, no sítio de Boca do Mato, às vésperas da data consagrada à Oxossi. Ouvimos de Zélio e Zilméia, a descrição do que foi a grande concentração promovida pela Federação Umbandista do Grande ABC, de Santo André, estado de São Paulo, em homenagem a Zélio... aquela Federação, presidida por Ronaldo Linares, visa uniformizar o culto dos templos umbandistas, excluindo gradativamente do ritual os preceitos já superados, a fim de atingir, na prática, o conceito definido pelo Caboclo: Umbanda é a manifestação do espírito para a caridade.

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

RECOMEÇAR

RECOMEÇAR

Sempre é tempo de recomeçar.
Em qualquer situação podemos abrir novas portas, conhecer novos lugares, novas pessoas, ter outros sonhos.
Renovar o nosso compromisso com a vida e assim, renascer para a vida e alcançar a felicidade.
Não importa quem te feriu, o importante é que você ficou.
Não interessa o que te faltou, tudo pode ser conquistado.
Não se ligue em quem te traiu, você foi fiel.
Não se lamente por quem se foi, cada um tem seu tempo.
Não reclame da dor, ela é a conselheira que nos chama de volta ao caminho.
Não se espante com as pessoas, cada um carrega dentro de si, dores e marcas que alteram o seu comportamento, ora estamos felizes e transbordamos de alegria e paz, ora estamos melancólicos e só queremos ficar sozinhos...
O mundo está cheio de novas oportunidades, basta olhar para a terra depois da chuva. Veja quantas plantinhas estão surgindo, como o verde se espalha mais bonito e forte depois da tempestade.
As portas se abrem para os que não tem medo de enfrentar as adversidades da vida, para os que caíram, mas se levantam com o brilho de vitória nos olhos.
Todo o caminho tem duas mãos, uma que seguimos ainda com passos inseguros, com medo, porque não sabemos ainda o que vamos encontrar lá na frente, na volta, mesmo derrotados, já sabemos o que tem no caminho, e quando um dia, resolvemos enfrentar os nossos medos e fazer essa viagem novamente, somos mais fortes, nossos passos são mais firmes, já sabemos onde e como chegar ao destino, o destino é a vitória, o seu destino é ser feliz, eu creio nisso, e você?
Você está pronto para recomeçar?
O caminho está a tua espera, pé na estrada, coloque um sonho na alma, fé no coração e esperança na mochila, a vida se enche de novidades para os que se aventuram na viagem que conduz a verdadeira liberdade.



Reverente

A atitude reverente e na disposição de aprofundar os relacionamentos com as pessoas e todos os seres da Natureza. Uma forte tempestade, a delicadeza de uma flor, assim como o misterioso processo de crescimento de um bebê no útero materno inspiram a reverência pela vida. Nossa alma muitas vezes nos coloca em situação nos quais devemos exercitar uma devoção reverente e nos concientizar da vasta interconexão que existe entre todos os seres. É fácil ser reverente quando nos maravilhamos diante dos muitos milagres da vida e percebemos a presença do sagrado nas ações mais rotineiras.

Reconheça que o Divino está dentro de cada um de nós e ele é somente solidificado pelos seus pensamentos, e os seus atos são somente respostas significativas da sincronicidade da sua atenção e intuição.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Presidente do templo atacado por fanáticos perdoa agressores: 'Eles não sabem o que fazem'






Intolerância e perdão
Publicada em 04/06/2008 às 17h01m
Mariane Thamsten - O Globo Online

RIO - Dois dias após o ataque de quatro jovens evangélicos a um templo de umbanda e kardecismo no Catete , o peso da intolerância religiosa ainda paira no ar. O presidente do centro Cruz de Oxalá, Clemente Abtibol Neto, ainda procura compreender a atitude extrema daqueles jovens, que, segundo ele, ainda têm uma vida inteira pela frente para aprender a praticar a caridade ensinada por Jesus Cristo.

- Assim como Jesus sofreu todo tipo de violência, nós também estamos sujeitos a agressões por causa das diferenças entre as formas de crer. Não tenho nada contra os jovens que agrediram nossa casa de oração. Eu só repito as palavras de Cristo na cruz: 'Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem' - disse seu Clemente, com a voz mansa, como um pai que perdoa uma travessura de um filho.

Mas, ao lembrar-se da barbárie, seu Clemente, de 84 anos, volta a se emocionar. Ele conta que estava num local de Convivência da Terceira Idade da Aeronáutica quando recebeu a visita do filho e da nora, com o jornal nas mãos.

- Chorei de tristeza e descontentamento, não pela agressão em si, mas pela violência gratuita contra um povo que só prega a caridade. A imagem que eles (os jovens) destruíram era uma relíquia, trazida pelo fundador do centro há anos - lembra seu Clemente, presidente da entidade há mais de 30 anos.

Deputado visitará templo depredado

O líder espiritual estranha o ataque dos jovens evangélicos, já que a religião prega, acima de tudo, o amor ao próximo, como ele mesmo afirmou.

- O que mais machuca é que, em vez de distribuírem carinho e amor ao próximo, o primeiro mandamento divino, alguns evangélicos maculam a própria fé, espalhando a violência e a falta de respeito ao próximo.


Abalada com o ocorrido, a filha dele, Regina Coeli Abtibol, de 30 anos, disse que jamais pensaria que alguém pudesse entrar num templo religioso para destruir e agredir os freqüentadores.

- Primeiro eu fiquei com o coração partido. A gente tem uma linha de perdoar e de levar a caridade a qualquer pessoa, mas quando soube do que aconteceu, fiquei magoada e triste de saber que um caso desses tenha acontecido em pleno século 21. É um retrocesso - lamenta.

Ela acredita ainda que os jovens teriam usado a igreja para justificar o ato de vandalismo.

- Acho que eles (os agressores) já estavam com vontade de arrumar confusão, a religião foi uma mera desculpa para justificar a violência - disparou Regina, que cresceu no centro de umbanda.

Não é a primeira vez que fanáticos religiosos atacam freqüentadores do templo Cruz de Oxalá, na Rua Bento Lisboa 146, no Catete, invadido e depredado, na noite de segunda-feira, por quatro membros da igreja neopentecostal Geração Jesus Cristo. Segundo um dos diretores do centro Celso Quadros, em quase todos os dias de funcionamento da entidade, grupos de religiosos agridem e ofendem as pessoas que estão na rua aguardando para entrar. Diretores do templo atacado entrarão com uma ação na Justiça por danos .

Ministro defende punição mais rigorosa para religiosos que preguem a intolerância



RIO - "As religiões de matriz africana são as mais vulneráveis ao preconceito, principalamente por parte de outras religiões". A afirmação foi feita neste domingo pelo ministro da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos, para quem é necessário combater essa prática que, muitas vezes, se faz por meio da violência. Ele defendeu a criação de um dispositivo "claro", que criminalize o preconceito por parte de outras religiões.

- Talvez seja necessário um dispositivo legal, que criminalize de forma muito clara essas manifestações religiosas, punindo seus responsáveis - disse. - Na maioria das situações, os lideres não aparecem, mas seus seguidores são instrumentalizados e orientados a ofender e agredir as religiões, em especial, as de matriz africana - completou o ministro.

Em entrevista à imprensa, antes de participar da Caminha pela Liberdade Religiosa, em Copacabana, no Rio, o ministro Edson Santos disse que a legislação atual não é aplicada com rigor. Mas, ponderou que a intolerância é praticada por uma pequena parte da população.

- Tenho certeza de que a sociedade de vários matizes se coloca de forma contrária e dura contra a discriminação - disse.

Atualmente, a maioria dos crimes de preconceito religioso no país são enquadrados no Artigo 208 do Código Penal, que estabelece detenção de um mês a um ano, ou multa - que pode ser aumentada em até um terço, no caso do emprego da violência -, para os casos de intolerância, como o dos jovens que destruíram um centro espírita no Rio, em junho passado.

No entanto, muitas lideranças de religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, pedem para que os casos de preconceito contra fiéis ou desrespeito a templos e imagens sejam julgados sob Lei Caó, que pune com reclusão de um a três anos, além de multa, quem praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, etnia ou religião.

Manifestação na Praia de Copacabana pede fim do preconceito contra religiões africanas

RIO - Religiosos , intelectuais e artistas já estão concentrados na Praça do Lido, na zona sul do Rio, para participar de uma caminhada na Praia de Copacabana em protesto contra a intolerância religiosa.

Eles querem reafirmar a defesa do direito constitucional de liberdade de culto e pedir o fim da violência contra os praticantes de religiões africanas como a umbanda e o candomblé.

No mês de junho, quatro jovens evangélicos invadiram um centro espírita no Catete, Zona Sul da cidade, insultaram fiéis e quebraram todas as imagens e objetos do local.

Os jovens foram presos em flagrante, mas soltos em seguida. Na semana passada, foram condenados a pagar multa, a distribuir cestas básicas e a cumprir quatro horas semanais de trabalho comunitário durante quatro meses.

O Código Penal prevê prisão de um mês a um ano ou multa para quem comete esse crime. A pena pode ser acrescida de até um terço no caso de haver violência.



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'Salve a Umbanda', um debate ecumênico sobre a intolerância religiosa






Enviado por Logo - 9/6/2008- 2:06

Salve a Umbanda

"A umbanda é a mentira!", vociferou o pastor Adão José dos Santos, da Igreja Pentecostal dos Milagres, no Grajaú, em depoimento à repórter Adriana Diniz, do jornal Extra (especial para esta página), na mesma semana em que jovens evangélicos destruíram um centro umbandista no Catete. Depois, disse que só se deve pregar pela palavra, não pela violência, esquecendo-se de que a violência é costumeiramente incitada com palavras como as suas. A seguir, outras palavras - umbandistas, evangélicas, católicas e judaicas - que têm em comum a celebração do amor, da liberadade de culto, da democracia, e o repúdio à intolerância. (Arnaldo Bloch)



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'Na minha casa não mexem’

Mãe Fátima Damas,


Presidente da Congregação Espírita
Umbandista do Brasil

Como presidente
de uma casa que
congrega 2.300
terreiros há 46
anos, nunca me
omito. Quando
subi a escadinha
no Catete senti uma punhalada
no peito. São nossos ícones. O
sagrado de um ser humano é
coisa séria. Ninguém tem direito
de tocar. Vi o senhorinho que
preside a casa e mora em asilo,
chorando: “é a minha vida”, di-
zia, trêmulo. Ali tinha imagem
de 80 anos, coisa que não se en-
contra mais. São objetos iman-
tados, preparados pelas entida-
des fundadoras.
Por isso, criamos uma comis-
são de tolerância religiosa, reu-
nimos 70 lideranças e fomos pa-
ra a Alerj, onde o presidente Jor-
ge Picciani ia nos receber. Mas
na hora H, era uma deputada
evangélica da Universal. Cantei
o hino da umbanda e saímos to-
dos, esvaziando a reunião. Os
deputados que nos apoiavam
disseram que perdemos uma
oportunidade. Mas não: fomos
para a escadaria, tratamos um
carro de som e pusemos a boca
no mundo.
Assim conseguimos um en-
contro com o secretário de se-
gurança José Mariano Beltrame,
para a próxima quarta-feira. E
vamos ao Cabral, e ao Lula. Ela-
boramos também um documen-
to para dar entrada no Ministé-
rio Público, pois o delegado não
quis fazer o boletim direito, o
que acontece muito quando é
caso de umbanda e candomblé.
Teve que pressionar, e assim
mesmo registraram como van-
dalismo, não intolerância. Por
isso mandamos muita coisa di-
reto para o MP.
No site do pastor que orien-
tou aqueles rapazes tinha um ví-
deo em que ele instiga à violên-
cia. Já tirou do ar mas temos
uma cópia. Antigamente os
evangélicos não tinham proble-
ma com a gente. Era só a polícia.
Isso começou com o Bispo Ma-
cedo, uns 20 anos atrás. Por que
ele era umbandista da casa do
Tata Tancredo da Silva Pinto, es-
se negão aí na parede. Conheceu
o métier e depois foi só pancada
na televisão. Que somos demô-
nios, capetas. Vão martelando e
enterrando essas idéias nas ca-
beças. As conseqüências vêm
depois. E olha que é concessão
pública! Imagina se esse evangé-
lico entrar agora no governo...
Por isso, dia 21 de setembro
faremos uma grande caminhada
ecumênica pela liberdade de
culto, a nível nacional. Vou à lu-
ta. Dou a cara sem dó nem pie-
dade. Se tivesse sido na minha
casa aqui não ia ficar de graça,
não. Ainda não tive oportunida-
de de conversar com as entida-
des espirituais. Mas já estive
pensando, intuitivamente: será
que a casa do Catete foi penali-
zada para que se pudesse, ago-
ra, remexer o caldeirão, para as
coisas virem à tona, e, brotando,
a gente poder caminhar em paz?
Ou vai virar uma guerra santa?
Se não cuidar, entorna.


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Os fios invisíveis da violência

Pastor Edson Fernando de Almeida

Pastor da Igreja Cristã de Ipanema e
professor do Instituto Metodista Bennett

O fel da intolerância, da
projeção no outro do que há de
mais diabólico no ser humano,
manifesta-se com intensidade
em nossos dias. O ataque de
quatro jovens adoecidos por
uma religiosidade mórbida a um
centro umbandista no Catete é
um triste exemplo. Dói no
coração saber que esses
meninos na flor de sua
juventude estão dispostos a
matar em nome de Deus.
Que cristianismo é esse? O
que é ser cristão? Essas
questões me remetem à
paradoxal afirmação de Jesus de
Nazaré: felizes os pacificadores,
porque serão chamados filhos e
filhas de Deus. É que no
primeiro século da era cristã o
termo pacificador aparecia nas
moedas do império romano
designando o Imperador. Era
aquele que, pelo uso da
violência ou não, assegurava a
continuidade do império. “Se
queres a paz, prepara-te para a
guerra!”
Mahatma Gandhi assim
interpretou as palavras de
Jesus: “Somos semelhantes a
Deus, à medida em que nos
tornamos não violentos!”. E a
busca da não violência tem a
ver com uma metamorfose do
nosso ecossistema afetivo e
social: o enfrentamento de um
certo analfabetismo afetivo que
marca nosso tempo. É preciso
buscar e ensinar a serenidade
mais que o barulho; dar e
oferecer em detrimento de
dominar, reter; escolher a
sensibilidade para superar o
ódio; e a singularidade para
vencer o esmagamento das
subjetividades; ouvir mais e
falar menos; servir, mais que ser
servido; a esvaziar-se em
direção ao “ser”, mais que
encher-se em direção ao “ter”.
A história da humanidade já
conheceu mais de 8 mil tratados
de paz. Nenhum trouxe a paz. É
que a paz é irmã do amor e,
como ele, não se alcança por
decreto. A vitória só leva à
vitória, jamais à paz. É um
contra-senso “lutar” pela paz.
Luta-se pelos direitos humanos,
pela justiça. A paz brota,
aparece, se recebe, se descobre.
Não é a paz dos tranqüilizantes,
dos cemitérios, dos confortos
comprados, ou a falsa paz dos
muros altos, das prisões.
Os quatro jovens haverão de
pagar pela intolerância que os
tomou. Mas nossa dor só gerará
proveito se for capaz de ir além
da condenação. É preciso
reconhecer os fios invisíveis da
violência no interior de nossas
orientações culturais, no
interior de nossas religiões, de
nossas casas e de nós mesmos.

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Intolerância, sinônimo de ignorância

Sílvio Rabaça


Jornalista, mestre em filosofia e fiel católico

A história da humanidade tem
sido marcada pela intolerância
religiosa e há quem proponha
que o fanatismo continuará a
instigar conflitos no futuro. Esse
tipo de análise, porém, quase
não deixa ver que o diálogo
entre as religiões pode ser um
dos caminhos mais sólidos para
o entendimento entre as
pessoas e as civilizações.
O leigo costuma desconfiar da
religião, e isso provavelmente se
deve a seu aspecto mais
controverso: o proselitismo.
Não compreende, por exemplo,
que o cristão (católico , como
eu, ou de outra igreja) não abra
mão de um preceito que lhe é
caro, como o de pregar o
evangelho. Como ele irá
respeitar, então, uma crença que
não se coadune com a sua?
Talvez valesse a pena inverter
a pergunta: será que, para que
haja diálogo, é preciso abrir
mão de suas convicções? A
resposta, obviamente, é não,
sob pena de que a religião perca
o sentido e o crente a própria
fé. As religiões, por mais
distintas que sejam entre si,
guardam muitos princípios em
comum, como a defesa da vida e
o respeito ao outro. Diante deles
o proselitismo tem bem menos
importância. E, ao contrário do
que muitos possam acreditar, as
religiões não prescindem da
razão, por mais falível que essa
possa ser. “Religiosa” pode ser
predicado para intolerância,
mas esta talvez não passe de
pura ignorância.




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A única força está no amor



Pastor Eduardo Rosa Pedreira

Pastor da Comunidade Presbiteriana da Barra da Tijuca

A juventude é um momento da
nossa vida fértil para o
florescimento de ideais pelas
quais lutar. É triste constatar
que, ao invés de serem
inspirados na construção do
Reino de Deus na nossa
sociedade, os jovens que
invadiram o centro umbandista
foram convidados a entrar
numa guerra religiosa, na qual o
outro deixa de ser um possível
cúmplice para o bem estar de
todos e se torna um inimigo a
ser corrigido ou agredido.
Neste contexto, é necessário
mais do que nunca, insistir na
idéia de que a força de uma
verdade religiosa não está na
imposição violenta da mesma,
mas sim no poder de sedução
advindo da coerência e do amor
com que é apresentada. Esta foi
a atitude de Jesus e através dela
ele conquistou o coração dos
seus mais ferrenhos inimigos.
Portanto, sua igreja e seus
adeptos não estão autorizados
pelo mestre do amor e da
coerência a agir de uma outra
maneira.
Fica aqui minha solidariedade
aos agredidos, meu repúdio à
ação dos agressores e meu
protesto profético contra toda e
qualquer atitude que se oponha
aos inalienáveis direitos a que
todos os cidadãos têm em nossa
sociedade.


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Humano: a mais sagrada criação


Osias Wurman

Jornalista e vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil.


Um dos mais importantes
ícones da sabedoria judaica,
Rabi Akiva, que viveu nos
primórdios da Era Comum,
resumia todos os mandamentos
da Lei de Moisés, a Torá, numa
frase: “E amarás o teu próximo
como a ti mesmo”. Os recentes
episódios de agressões e
calúnias entre religiosos de
diferentes crenças são motivo
de critica para todos que
acreditam na fé de Moisés. É
inaceitável que em nome de
Deus pratiquem-se atos de
violência contra a mais
importante das criações divinas:
o ser humano. Nada pode
justificar a invasão de locais de
culto, com a depredação de
símbolos que são sacros para
terceiros. Outra máxima para a
convivência religiosa pode ser
tirada do ensinamento: “o
direito de cada um termina
onde começa o do outro”. São
repugnantes as cenas movidas
pelo fundamentalismo religioso,
que em nossos dias se reflete
em vandalismo, ofensa e terror
suicida. O princípio básico de
todas as religiões deve ser
respeitar as opções pessoais,
amando ao próximo,
independentemente de credo.

INTOLERÂNCIA




Jovens depredam templo religioso no Catete e insultam freqüentadores
Publicada em 03/06/2008 às 12h35m
Natanael Damasceno - O Globo e TV Globo


RIO - Quatro jovens da igreja Geração Jesus Cristo invadiram e depredaram o templo Cruz de Oxalá, no Catete, no início da noite desta segunda-feira. Aos gritos, três rapazes e uma jovem, todos aparentando ter cerca de 20 anos, insultaram os fiéis e quebraram todas as imagens e utensílios que estavam no local. Contidos pelos dirigentes do centro, os quatro foram levados para a 9ª DP (Catete), prestaram depoimento e foram liberados.


Pastor se diz surpreso com ataque
Horas depois de terem sido presos, os jovens saíram sem dar nenhuma declaração. Eles disseram apenas que faziam parte de uma igreja evangélica chamada Geração Jesus Cristo.

De acordo com o site G1, o pastor Tupirani, responsável pela Igreja Geração Jesus Cristo, condenou o ataque:

- Fiquei muito surpreso. Eles não deviam ter feito o que fizeram, não incentivamos esse tipo de atitude - disse, assegurando que os quatro integrantes detidos em flagrante depois de invadir e quebrar imagens no local, são "exemplos dentro da igreja".

Ataque no início da noite
O ataque começou pouco antes das 19h, quando uma fila com pouco mais de 20 pessoas aguardava a abertura do centro, que funciona em um sobrado na Rua Bento Lisboa. O grupo perguntou a uma das freqüentadoras para que era a fila e, diante da resposta, teria começado a demostração de intolerância.

"
Eles agrediram verbalmente todos os que estavam na fila e aproveitaram a porta aberta para entrar correndo
"
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- Quando disse que estávamos ali para a consulta, eles começaram a nos insultar. Aos gritos, diziam que, por ordem de Jesus, devíamos abandonar o demônio, que estaria ali presente. Eles agrediram verbalmente todos os que estavam na fila e aproveitaram a porta aberta para entrar correndo - contou a advogada Sylvia Santana.

Os dirigentes do centro têm medo de novos ataques:

- Será que outros não aparecerão? Não só na nossa igreja, mas também em outras. Isso realmente causa preocupação - ressaltou a advogada Cristina Moreira.

O centro mistura conceitos de religiões afro-brasileiras e do Kardecismo. Segundo seus dirigentes, ele está no bairro há pouco mais de dez anos e sempre conviveu pacificamente com vizinhos católicos e evangélicos. Os ataques teriam começado há alguns meses, depois que uma nova igreja evangélica se instalou nas proximidades.

De acordo com o telejornal "RJTV", na página que a congregação mantém na internet, vídeos e textos apresentam diversas críticas a outras doutrinas e crenças religiosas, com palavras agressivas. Em um dos textos, intitulado "Alerta para a população", há um relato de que outros incidentes, como o desta segunda-feira, já tinham acontecido.

Segundo o RJTV, os seguidores da igreja teriam trocado socos e tapas com integrantes de outra igreja evangélica, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e também no interior do estado, no município de Mendes.

Os quatro invasores foram autuados e vão responder por ameaça, dano contra o patrimônio e por desrespeito a culto ou prática religiosa. As penas variam de um mês a um ano de cadeia, mais multa.

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

INCENSOS



Jasmim
Ajuda a superar o estresse e o esgotamento nervoso. Proporciona fé e favorece a prática de meditação.

Limão
Tem efeitos purificadores amplos: afasta as más vibrações dos ambientes, estimula a cura e ajuda a enxergar os acontecimentos com maior lucidez.

Angélica
Aumenta a afetividade, faz aflorar a compaixão e favorece a prática da filantropia. É excelente para purificar ambientes de hospitais, asilos, instituições de caridade, etc.

Patchuli
Ajuda a agir com mais autocontrole e objetividade. Ameniza a raiva e a ansiedade, permitindo a tomada de decisões concretas e sensatas.

Mirra
Estimula a intuição, a fé e a sensibilidade. Este aroma é especialmente indicado para as práticas de oração e meditação.

Ylang-Ylang Afrodisíaco. Deve ser usado sobretudo por mulheres, pois exerce efeito atrativo sobre o sexo masculino.

Lavanda
Estimula as atividades mentais, a sensibilidade, a inteligência e a criatividade. Favorece o aprendizado e os estudos esotéricos.

Alfazema
Proporciona equilíbrio emocional, dá coragem para batalhar pelas coisas que se deseja, favorece a prática da oração, aumenta o sentimento de fé.

Camomila
Aumenta a vitalidade física, traz serenidade, favorece os trabalhos criativos e aguça os sensos de responsabilidade e disciplina.

Arruda
Traz proteção espiritual, proporciona autoconfiança e ajuda a eliminar as energias negativas dos ambientes.

Cedro
Desperta o apetite sexual, estimula a força física e tem bons efeitos como purificador de ambientes.

Almíscar
Quando usado por mulheres, tem efeitos afrodisíacos. Também estimula a fé, trazendo uma grande confiança no momento de enfrentar obstáculos.

Madressilva
Estimula a sensibilidade, o desprendimento e a compaixão. Ajuda a ser menos materialista e a dar maior importância aos valores espirituais.

Cravo
Ajuda a controlar as emoções e a superar o medo e o complexo de inferioridade. Fortalece internamente e afasta o sentimento de rejeição.

Rosa
Beneficia os assuntos de ordem afetiva e a espiritualidade. Também estimula a intuição e ajuda a superar medos antigos.

Alecrim
Revitaliza, ajuda a superar os dissabores amorosos, proporciona maior resistência física.

Acácia
Tem efeito revigorante, proporciona autoconfiança, estimula a espiritualidade e favorece os assuntos de ordem material. É ótimo para purificar ambientes.

Âmbar
Aguça a sensualidade, favorece a coragem e permite lidar com os deveres de forma mais sensata e responsável

A outra mãe



Neide tinha somente 14 anos quando resolveu deixar a roça e tentar a vida na cidade grande.

Chegou ao Rio de Janeiro e, sem qualificação profissional alguma, teve algumas dificuldades. Minha avó a admitiu em sua casa e a ensinou a cozinhar, arrumar a casa e até a andar pelas ruas sem medo.

Os anos se passaram. Quando eu tinha somente 3 meses de vida, Neide foi morar conosco e ser a minha babá.

Mais anos se passaram, nasceram meus irmãos. Algumas babás chegaram e foram embora, e Neide ficou.

Babá de três crianças, com pouco mais de um ano de diferença entre si.

O que é uma babá? É alguém que é paga para trocar fraldas, levar as crianças à pracinha, brincar, pôr para dormir. Pois é, acho que Neide nunca foi minha babá.

Não que ela não tenha feito tudo isso, mas nunca o fez como babá somente.

Neide me ensinou, por exemplo, a fazer conta de dividir. E, no ano seguinte, ao meu irmão. E, no seguinte, à minha irmã.

Isso foi uma daquelas coisas interessantes da vida: três filhos de um economista brilhante e uma advogada com pós-graduação na Alemanha, estudando num dos melhores colégios da cidade, mas que só aprenderam a fazer conta com aquela outra mãe, a que viera da roça e não tinha nem o segundo grau completo.

Por vezes, minha mãe, que trabalhava fora, tentou convencer Neide a voltar a estudar. Quis que ela aprendesse a dirigir e lhe ofereceu um carro de presente. Ela, porém, recusou.

Na época, lembro que me revoltava com a inércia de Neide. Queria que ela evoluísse. Mal sabia que ela desempenhava com maestria a profissão que tinha escolhido abraçar: ser nossa mãe.

O tempo passou. Nós crescemos. Um dia, chegou a notícia. O pai de Neide, diabético, precisava ter parte de sua perna amputada.

Novos cuidados iam ser necessários e a mãe de Neide, já uma senhora, não teria condições de tomar conta do marido sozinha.

Foi assim que aos 17 anos, tive de me despedir da minha segunda mãe que, depois de quase 30 anos na cidade, com minha família, precisou voltar para a roça.

Ela nunca teve filhos biológicos. Mas seria tolice dizer que ela não foi mãe. Ela foi a melhor mãe que uma criança pode ter, e eu fui a criança mais feliz do mundo por ter sido criada não por uma, mas por duas mães maravilhosas.

* * *

O texto retrata a homenagem de uma pessoa agradecida a alguém que, em sua vida, representou um grande papel.

Em muitas vidas, ocorre assim. Serviçais são contratados e surpreendem pela dedicação com que desempenham as tarefas, muito além do próprio dever.

Quase sempre são Espíritos amigos que se comprometem a zelar pelos seus afeiçoados. Surgem então, na feição de criaturas que se transformam em anjos guardiões de vidas, e atravessam os anos, em total dedicação.

Estão com os seus tutelados no primeiro dia de aula, segurando-lhes a mão. Verificam se eles fizeram a lição de casa. Inspecionam o banho dos menores, preocupam-se com os horários das refeições e dos medicamentos.

Acompanham-nos a festinhas e, muitas vezes, se transformam em confidentes dos adolescentes.

Nos tempos da escravatura, eram chamadas de amas de leite. Hoje, de babás. O nome, em verdade, não importa.

O que importa é reconhecer que Deus coloca em nossas vidas seres especiais, no auxílio à nossa tarefa de pais e mães.

Cumpre reconhecer-lhes as presenças e lhes render as homenagens do coração que goza da ventura de merecer o seu apoio para a sagrada missão de orientar os próprios rebentos.

* * *

A gratidão pode se expressar de várias formas. Algumas crianças a traduzem de forma espontânea, colocando apelidos carinhosos naqueles que as cercam de cuidados.

Por vezes, a expressão que escolhem, no vocabulário da alma, é o doce nome de mãe.

Redação do Momento Espírita com base em texto da Revista Seleções do Reader’s Digest de abril/2003, atribuído a Paula Foschia.
Em 09.05.2008.

QUILOMBO DOS PALAMARES



Quilombo dos Palmares
A partir do início do século XVII, os escravos que conseguiam fugir das fazendas e dos engenhos começaram a reunir-se em lugares seguros e ali ficavam vivendo em liberdade, longe de seus senhores. Estes lugares ficaram conhecidos por “quilombos” e seus habitantes, “quilombolas”.
Houve muitos quilombos no Brasil. O mais importante foi o “Quilombo de Palmares”, instalado na Serra da Barriga, onde hoje é o estado de Alagoas. Durou mais de sessenta anos e chegou a contar com uma população de vinte mil habitantes, o que era bastante para a época. Na verdade, era um quilombo formado de vários outros, organizados sob a forma de reino.
Quando houve a Invasão da Holanda, os diversos quilombos que o compunham foram reforçados, pois inúmeros escravos deixavam os lugares onde viviam e iam refugiar-se nos quilombos, aproveitando a ausência dos seus senhores, que também fugiam dos invasores.
Enquanto os brasileiros e portugueses lutavam contra os holandeses, os fugitivos trataram de fortalecer os seus quilombos.
No princípio, para poder viver, os quilombolas praticavam assaltos às fazendas e povoados mais próximos. Pouco a pouco, foram-se organizando, cultivando a terra e trocando parte das colheitas por outras coisas de que precisavam.
Durante o tempo em que brasileiros e portugueses estavam ocupados, combatendo os invasores, os negros viveram sossegados. Logo, porém, que os holandeses deixaram de ser preocupação, os brancos começaram a combater os quilombolas.
Apesar dos inúmeros ataques que realizaram, os brancos não conseguiram arrasar os quilombos, como era sua intenção.
Os quilombos estavam bem reforçados, os negros eram corajosos e, ainda por cima, lutavam pela liberdade!
Por fim, o governo de Pernambuco solicitou a ajuda do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, que preparou uma expedição para derrotar os fugitivos.
Também ele falhou nas primeiras tentativas, mas não desistiu. Organizou um exército realmente poderoso e voltou ao ataque. Mesmo assim, a resistência dos quilombolas foi tão grande, tão valente, que a luta durou perto de três anos.
Os negros tinham uma desvantagem: estavam cercados. Enquanto os atacantes podiam conseguir reforços e munições de fora, principalmente contando com o interesse do governo, os quilombolas encontravam-se sozinhos e apenas podiam contar com o que possuíam. É claro que, um dia, a munição dos sitiados tinha de se esgotar. Quando isto se deu, muitos negros fugiram para o sertão. Outros se suicidaram ou renderam-se aos atacantes.

A Morte de Zumbi

Segundo nos conta a tradição, logo no início da formação do quilombo, foi escolhido um rei:chamava-se Gangazuma. Habitava um palácio denominado Musumba, juntamente com seus parentes, ministros e auxiliares mais próximos. Organizara e mantinha sob seu comando um verdadeiro exército.
Um dia, morreu Gangazuma. Os quilombolas ficaram tristes, mas a vida continuava e eles precisavam de um novo rei.



Elegiam vitaliciamente, um Zumbi, o senhor da força militar e da lei tradicional.
Não havia ricos, nem pobres, nem furtos nem injustiças. Três cercas de madeira rodeavam, numa tríplice paliçada, o casario de milhares e milhares de homens.
Ao princípio, para viver, desciam os negros armados, assaltando, depredando, carregando o butim para as atalaias de sua fortaleza de pedra inacessível.
Depois o governo nasceu e com ele a ordem; a produção regular simplificou comunicações pacíficas, em vendas e compras nos lugarejos vizinhos; constituiu-se a família e nasceram os cidadãos palmarinos.
As plantações ficavam nos intervalos das cercas, vigiadas pelas guardas de duzentos homens, de lanças reluzentes, longas espadas e algumas armas de fogo.
No pátio central, como numa aringa africana, o primeiro governo livre em todas as terras americanas.
Ali o Zumbi distribuía justiça, exercitava as tropas, recebia festas e acompanhava o culto, religião espontânea, aculturação de catolicismo com os rituais do continente negro.
Vinte vezes, durante a existência, foram atacados, com sorte diversa, mas os Palmares resistiam, espalhando-se, divulgando-se, atraindo a esperança de todos os escravos chibateados nos eitos de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
A república palmarina desorganizava o ritmo do trabalho escravo em toda a região. Dia a dia fugiam novos cativos, futuros soldados do Zumbi, com seu manto, sua espada e sua lança real.
Debalde o Zumbi levou suas forças ao combate, repelindo e vencendo. O inimigo recompunha-se, recebendo víveres e munições, quando os negros, sitiados, se alimentavam de furor e de vingança.
Numa manhã, todo exército atacou ao mesmo tempo, por todas as faces. As paliçadas foram cedendo, abatidas a machado, molhando-se o chão com o sangue desesperado dos negros guerreiros.
Os paulistas de Domingos Jorge Velho; Bernardo Vieira de Melo com as tropas de Olinda; Sebastião Dias com os homens de reforço – foram avançando e pagando caro cada polegada que a espada conquistava.
Gritando e morrendo, os vencedores subiam sempre, despedaçando as resistências, derramando-se como rios impetuosos, entre as casinhas de palha, incendiando, prendendo, trucidando.
Quando a derradeira cerca se espatifou, o Zumbi correu até o ponto mais alto da serra, de onde o panorama do reino saqueado era completo e vivo. Daí, com seus companheiros, olhou o final da batalha.
Paulistas e olindenses iniciavam a caçada humana, revirando as palhoças, vencendo os últimos obstinados.
Do cimo da serra, o Zumbi brandiu a lança espelhante, e saltou para o abismo.
Seus generais o acompanharam, numa fidelidade ao Rei e ao Reino vencidos.
Em certos pontos da serra ainda estão visíveis as pedras negras das fortificações.
E vive ainda a lembrança ao último Zumbi, o Rei de Palmares, o guerreiro que viveu na morte seu direito de liberdade e de heroísmo...

Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). - São Paulo: APEL Editora, sem/data
Lendas Brasileiras / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro, 2000
Ilustrações de J. Lanzellotti

SALVE VOVÓ MARIA



“A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo; revolta sempre os corações honestos.”



Vovó Maria fumegava seu pito e batia seu pé ao som da curimba enquanto observava o terreiro, onde os cambonos movimentavam-se atendendo aos pretos velhos e aos consulentes.

Mandingueira, acostumada a enfrentar de tudo um pouco nos trabalhos de magia, sabia perfeitamente como o mal agia tentando disseminar o esforço do bem.

Sob variadas formas, as trevas vagavam por ali também.

Alguns em busca de socorro; outros, mal-intencionados, debochavam dos trabalhadores da luz. Muitos chegavam grudados no corpo das pessoas, qual parasitas sugando sua vitalidade.

Outros, por sobre seus ombros, arqueando e causando dores nos hospedeiros, ou amarrados nos tornozelos, arrastavam-se com gemidos de dor. Fora os tantos que eram barrados pela guarda do local, ainda na porta do terreiro e que, lá de fora, esbravejavam palavrões.

Da mesma forma, o movimento dos exus e outros falangeiros se fazia intenso no lado astral do ambiente, para que, dentro do merecimento de cada espírito, pudessem ser encaminhados.

Uma senhora com ares de madame se aproximou da preta velha para receber atendimento. Vinha arrastando uma perna que mantinha enfaixada.

– Saravá, filha – falou Vovó Maria, enquanto desinfetava o campo magnético da mulher com um galho verde, além de soprar a fumaça do palheiro em direção ao seu abdome, o que fez com que a mulher demonstrasse nojo em sua fisionomia.

Fingindo ignorar, a preta velha, cantarolando, continuou a sua limpeza. Riscando um ponto com sua pemba no chão do terreiro, pediu que a mulher colocasse sobre ele a perna ferida.

“Será que não vai pedir o que tenho?”, pensou a mulher, já arrependida por estar ali naquele lugar desagradável. “Vou sair daqui impregnada por estes cheiros!”

Vovó Maria sorriu, pois captara o pensamento da mulher, mas preferiu ignorar tudo isso. O que a mulher não sabia era a gravidade real do seu caso, ou seja, aquilo que não aparecia no físico. Se ela pudesse ver o que estava causando a dor e o inchaço na perna, aí sim, certamente ficaria muito enojada. Na contraparte energética, abundavam larvas que se abasteciam da vitalidade do que já era uma enorme ferida e que breve irromperia também no físico.

Além disso, uma entidade espiritual, em quase total deformação, mantinha-se algemada à sua perna, nutrindo, assim, essas larvas astrais. Para qualquer neófito, aquilo mais parecia um cadáver retirado da tumba mortal, inclusive pelo mau cheiro que exalava.

Com a destreza de um mago, a preta velha sabia como desvincular e transmutar toda essa parafernália de energias densas, libertando e socorrendo a entidade escravizada a ela.

Feitos os devidos “curativos” no corpo energético da mulher, Vovó Maria, que à visão dos encarnados não fez mais que um benzimento com ervas e algumas baforadas de palheiro, dirigiu-se agora com voz firme à consulente:

– Preta Velha até aqui ouviu calada o que a filha pensou a respeito do seu trabalho. Agora preciso abrir minhas tramelas e puxar sua orelha.

Ouvindo isso, a mulher afastou-se um pouco da entidade, assustada com a possibilidade de que ela viesse mesmo a lhe puxar a orelha.

“Escutou o que pensei? Ah, essa é boa. Ela está blefando comigo.”, pensou novamente a mulher.

– Se a madame não acredita em nosso trabalho, por que veio aqui buscar ajuda? Filha, não estamos aqui enganando ninguém. Procuramos fazer o que é possível, dentro do merecimento de cada um.

– É que me recomendaram vir me benzer, mas eu não gosto muito dessas coisas...

– ...e só veio porque está desesperada de dor e a medicina não lhe deu alento, não foi filha? – complementou a preta velha.

– Os médicos querem drenar a perna e eu fiquei com medo, pois nos exames não aparece nada, mas a dor estava insuportável.

– Estava? Por quê, a dor já acalmou?

– É, agora acalmou, parece que minha perna está amortecida.

– E está mesmo, eu fiz um curativo.

A mulher, olhando a perna e não vendo curativo nenhum, já estava pronta para emitir um pensamento de desconfiança quando a preta velha interferiu:

– Vá para sua casa, filha, e amanhã bem cedo colha uma rosa do seu jardim, ainda com orvalho, e lave a sua perna com ela, na água corrente. Ao meio-dia o inchaço vai sumir e sua perna estará curada.

Não ousando mais desconfiar, ela agradeceu e já estava saindo quando a preta velha a chamou e disse:

– Não se esqueça de pagar a promessa que fez pra Sinhá Maria, antes dela morrer...

Arregalando os olhos, a mulher quase enfartou e tratou de sair daquele lugar imediatamente.

O cambono, que a tudo assistia calado, não agüentando a curiosidade perguntou que promessa foi essa.

– Meu menino, o que nós escondemos dos homens fica gravado no mundo dos espíritos. Essa filha, herdeira de um carma bastante pesado por ter sido dona de escravos em vida passada e, principalmente, por tê-los ferido a ferro e fogo, imprimindo sua marca na panturrilha dos negros, recebeu nesta encarnação, como sua fiel cozinheira, uma negra chamada Sinhá Maria.

Esse espírito mantinha laços de carinho profundo pela madame desde o tempo da escravidão, quando foi sua “Bá” e, por isso, única poupada de suas maldades. Nessa encarnação, juntaram-se novamente no intuito de que a bondosa negra pudesse despertar na mulher um pouco de humildade, para que esta tivesse a oportunidade de ressarcir os débitos, diante da necessidade que surgiria de auxiliar alguém envolvido na trama cármica.

Sinhá Maria, acometida de deficiência respiratória, antes de desencarnar solicitou à sua patroa que, na sua falta, assistisse seu esposo, que era paraplégico, faltando-lhe as duas pernas.

Deixou para isso todas as suas economias de anos a fio de trabalho e só lhe pediu que mantivesse com isso a alimentação e os medicamentos. Mas na primeira vez que ela foi até a favela onde morava o homem, desistiu da ajuda, pois aquele não era o seu “palco”. Tratou logo de ajustar uma vizinha do barraco, dando-lhe todo o dinheiro que Sinhá havia deixado, com a promessa de cuidar do pobre homem. Não é preciso dizer que rumo tomaram as economias da pobre negra; em pouco tempo, para evitar que ele morresse à míngua, a Assistência Social o internou em asilo público. Lá ele aguarda sua amada para buscá-lo, tirando-o do sofrimento do corpo físico. Nenhuma visita, nenhum cuidado especial. A madame se havia “esquecido” da promessa. Eu só fiz lembrá-la para que não tenha que voltar aqui com as duas pernas inválidas. A Lei só nos cobra o que é de direito, mas ela é infalível. Quanto mais atrasamos o pagamento de nossas dívidas, maiores elas ficam. Por isso, camboninho, negra velha sempre diz para os filhos que a caridade é moeda valiosa que todos possuímos, mas que poucos de nós usam. Se não acordamos sozinhos, na hora exata a vida liga o “desperta-dor” e, às vezes, acordamos assustados com a barulheira que ele faz... eh, eh, eh... Entendeu, meu menino?

– Sim, minha mãe. Lembrei que tenho de visitar meu avô que está no asilo...

Sorrindo e balançando a cabeça a bondosa preta velha falou com seus botões:

– Nega véia matô dois coelhos com uma cajadada só... eh, eh...

E, batendo o pé no chão, fumando seu pito e cantarolando, prosseguiu ela, socorrendo e curando até que, junto aos demais, voltou para as bandas de Aruanda.


Vovó Maria

Capítulo 4 do Livro Causos de Umbanda - Volume 2 - Outras Histórias de Vovó Benta - Ed. Conhecimento


SANTA SARA PADROEIRA DOS CIGANOS

Embaixo de uma árvore frondosa e afastada do acampamento, encontraram a cigana Soraya aos prantos com um bebê no colo. Naquela época fazia muito frio na Dinamarca, mas o neném parecia estar muito bem aquecido. Já não eram lágrimas de dor e talvez nem tudo estava perdido...
Casou-se bem cedo, possuindo todos os dotes que uma virgem cigana deveria ter. Como de costume, a noiva passou a pertencer à família do noivo, mas para a surpresa de todos, os dois clãs decidiram se unir, da mesma forma que se uniram Soraya e Karlon. No astral, iniciava-se mais uma jornada, onde oportunidades estavam sendo dadas a todos esses espíritos, pois para a misericórdia Divina nada se perde e tudo se transforma.

Até que, numa gélida e escura manhã de inverno, tiveram a confirmação através de umas das shuvanis do clã... Soraya tinha “ventre seco”. Logo ela, tão bela e formosa! – alguns falavam. Desgraça! – outros diziam. Ela foi amaldiçoada! – murmuravam. A única coisa que Soraya pensava era fugir dali, pois não existia mal pior do que esse para uma cigana. Sabia que iria ser repudiada, mas não suportaria ser condenada pelo marido também, o qual aprendeu amar e respeitar.

Enquanto os mais velhos preparavam a Kris-Romani, uma espécie de tribunal onde julgava casos como esse, ela conseguiu fugir. Correu, correu, correu... Já não tinha mais fôlego quando se deixou cair aos pés daquela árvore. Vários ciganos foram atrás dela, mas não a encontraram... Estava tão desesperada e esgotada que nem percebeu quando uma carruagem parou ali perto. Uma senhora, que mais parecia uma serviçal desceu e atirou em seus braços aquela inocente e indefesa criança sem ao menos dizer uma palavra. Fitando aquele lindo bebê, Soraya compreendeu que a alma é muito mais importante do que o corpo, pois a alma é eterna e o corpo apodrece. Mergulhou no azul dos seus delicados olhos e voou. Voou como se estivesse na imensidão do céu... Olhou para a carruagem, a qual já se desmanchava no horizonte. Ainda pode ver o brasão, que parecia ser de família nobre, mas não se importava com mais nada. Algumas crianças do clã, que estavam acostumadas a brincar por ali, a encontraram e quando levou novamente seu olhar para a carruagem, aquietou seu coração... Não era uma carruagem, era Santa Sara Kali, a mãe dos ciganos...

Retornou para o acampamento com as crianças, que viram tudo que tinha acontecido ali. O julgamento já estava sendo finalizado, mesmo sem a presença dela, quando pediu licença para falar, ainda com o Felipe nos braços. As ciganas não conseguiram conter as crianças, pois começaram a relatar tudo que viram. Deram permissão para que ela falasse, até porque queriam saber de onde vinha aquela criança. Seu marido ficou feliz quando a viu, pois compreendia e aceitava aquela condição de esterilidade, não concordando com a decisão da Kris-Romani. Na verdade, já tinha aceitado até mesmo antes de reencarnar e trazia isso em seu inconsciente.

A fé em Santa Sara Kali atravessou os mares mesmo durante as tempestades, transformou a tradição e ensinou a amar acima de tudo...

Felipe cresceu e parecia ter sangue cigano nas veias... Com ele, todos aprenderam que liberdade é muito mais do que imaginavam; que a liberdade vai além da matéria e que a liberdade vem da alma!

Mudanças são necessárias para que possamos evoluir, mesmo que seja através da dor. Cada um é responsável pelo seu baji, ou seja, destino; sempre de acordo com a semeadura.

Espíritos que num passado remoto se uniram para disseminar a “raça pura”, ontem se uniram para celebrar a união, dos noivos e dos clãs... O cigano Felipe, porta voz da “purificação da raça” de outrora; ontem de pele clara e olhos azuis se destacava entre os ciganos de sangue e de peles avermelhadas, aprendendo e ensinando que todos são irmãos, filhos do mesmo Pai.

Soraya se conformou, compreendeu e lutou, aproveitando a oportunidade que lhe foi dada. Arrependeu-se e pediu perdão por que ainda trazia em seu perispírito os abortos provocados em outras vidas, juntamente com o seu antigo cúmplice, o cigano Karlon. Transformou-se em uma linda cigana, curandeira das crianças, sempre com o Karlon ao seu lado.

Como disse o Mestre Jesus, nenhuma ovelha irá se perder!

Optcha!

Cigano Artêmio

SALVE SANTA SARA KALI, A PADROEIRA DOS CIGANOS!

PASSANDO PELA TERRA



Sempre útil não te esqueceres de que te encontras em estágio educativo na Terra.
Jornadeando nas trilhas da evolução, não é o tempo que passa por ti, mas, inversamente, és a criatura que passa pelo tempo.
Conserva a esperança em teus apetrechos de viagem.
Caminha trabalhando e fazendo o bem que puderes.
Aceita os companheiros do caminho, qual se mostram, sem exigir-lhes a perfeição da qual todos nos vemos ainda muito distantes.
Suporta as falhas do próximo com paciência, reconhecendo que nós, os espíritos ainda vinculados à Terra, não nos achamos isentos de imperfeições.
Levanta os caídos e ampara os que tropecem.
Não te lamentes.
Habitua-te a facear dificuldades e problemas, de ânimo firme, assimilando-lhes o ensino de que se façam portadores.
Não te detenhas no passado, embora o passado deva ser uma lição inesquecível no arquivo da experiência.
Desculpa, sem condições, quaisquer ofensas, sejam quais sejam, para que consigas avançar, estrada afora, livre do mal.
Auxilia aos outros, quanto estiver ao teu alcance, e repete semelhante benefício, tantas vezes quantas isso te for solicitado.
Não te sirvam de estorvo ao trabalho evolutivo as calamidades e provas em que te vejas, já que te reconheces passando pela Terra, a caminho da Vida Maior.
Louva, agradece, abençoa e serve sempre.
E não nos esqueçamos de que as nossas realizações constituem a nossa própria bagagem, onde estivermos, e nem olvidemos que das parcelas de
tudo aquilo que doamos ou fazemos na Terra, teremos a justa equação na Vida Espiritual.

EMMANUEL

História contada por Vovó Benta:



História contada por Vovó Benta:

Cigana Sarita

Sarita acordava sentindo o cheiro das flores que trazido pelo vento que balançava a alva cortina da janela.
O sol estava radiante lá fora e embora ela já estivesse sentindo-se bem melhor, ainda não tinha coragem de sair da cama. O quarto aconchegante na sua simplicidade, era convidativo ao descanso.

Absorta em seus pensamentos, nem percebeu a presença do enfermeiro que entrara com o seu desjejum e que parado a observava.

Olhava os pássaros que pulavam de galho em galho num festival de alegria, como a saudar a vida, quando foi desperta pelo " bom dia" de Raul.

a.. Oh...desculpa eu estava distraída.

b.. Encontrá-la acordada é muito bom. Vamos ao desjejum pois hoje nós vamos levantar desta cama e ensaiar os primeiros passos no seu novo mundo.

c.. Não me sinto capaz de caminhar ainda. Na verdade não sinto minhas pernas.

d.. Sarita, já conversamos sobre isso. É apenas impressão trazida no seu corpo mental. Você só precisa tomar uma decisão firme que quer caminhar e assim se processará.

Essas pernas que te acompanharam além túmulo são saudáveis. Foram longos anos de dor e sofrimento, mas agora tudo acabou, é preciso que se conscientize disso e reaja.

Com a paciência e disciplina de um instrutor, Raul conseguiu com que Sarita desse seus primeiros e cambaleantes passos.

E em poucos dias entusiasmada com a beleza do local, esqueceu da suposta limitação e já caminhava feliz por aquele maravilhoso jardim, que mais parecia um bosque.

Passara-se alguns anos do calendário terreno desde essa época e Sarita lembra-se ainda emocionada de sua história triste com final feliz.

Não havia como não recordar, especialmente agora que estava em treinamento naquela colônia espiritual para assumir um trabalho junto aos encarnados.

Apreensiva lembrava da manhã em que foi convidada a frequentar os bancos escolares, por seu " mestre-anfitrião" . Como estivesse já ambientada com o local e sabedora de como eram distribuídas as funções de acordo com a afinidade e principalmente necessidade de cada espírito, sabia perfeitamente que não seria chamada ao trabalho de "anjo-de-guarda" , mas tendo a certeza de que suas funções se dariam no plano terreno, isso a atemorizava um pouco, pela experiência da última encarnação.

No curso, os ensinamentos todos recebidos eram perfeitamente adaptados ao aluno de acordo com as experiências trazidas e no final deste, Sarita não tinha mais dúvidas. Trabalharia nas fileiras da nova religião que se instalava no país onde vivera sua última encarnação, a Umbanda.

Pelo seu conhecimento magístico mal aproveitado, teria que direcioná-lo agora para se fazer cumprir a lei.

Em breve seria apresentada ao médium com quem trabalharia como Pomba Gira, mas de antemão já sabia que embora ele fosse umbandista, tinha preconceito com essas entidades. O desafio recomeçava.

Olhando a lua que bailava por entre as estrelas, Sarita deitada sobre a relva meditava, fazendo uma retrospectiva de sua última encarnação.

Lembra-se de sua infância feliz vivida junto de muitas outras crianças, naquela vida nômade que levava sua trupe.

A adolescência onde seus "dotes" ou poderes mágicos se acentuaram e quando começou a ser a cigana mais requisitada para ler as mãos das pessoas.

Sua tenda, onde quer que estivessem, sempre tinha freguês certo e era dela que vinha a maior renda para a sobrevivência do grupo todo.

Após febre muito forte sofrida em função de uma infecção adquirida, Sarita sentiu que seus " poderes" de adivinhação haviam sumido, mas de maneira alguma deixou aparentar isso ao grupo ou a quem fosse e daí em diante passou a fingir e cobrar mais caro por isso.

E o dinheiro fácil passou a entusiasmá-la e como sempre fora muito vaidosa, agora podia se cobrir com as jóias mais caras e deslumbrantes e vestir-se com as sedas mais finas.

Tornou-se a cigana mais respeitada e logo assumiu o comando do grupo.

A ternura angelical daquela jovem agora desaparecia, dando lugar a um radicalismo quase maldoso quando agia em defesa dos seus.

Seu povo era muito perseguido e discriminado naquelas terras e isso fazia com que Sarita procurasse ganhar muito dinheiro e para tal não media consequências, para com isso adquirir poder se impor diante das perseguições.

Numa emboscada que se fez passar por um acidente, Sarita desencarnou deixando seu povo sem líder e desesperado.

A dependência de seu povo era tamanha que não sabiam mais pensar sozinhos e a morte daquela cigana a quem consideravam quase uma deusa os pegou desprevenidos.

E nesse desespero buscavam a ajuda do espírito de Sarita, pois acreditavam que agora virara santa e que certamente, mesmo do outro lado, ela não desampararia seu povo.

Em função disso criaram cultos e os peditórios foram aos poucos, se espalhado além do povo cigano e o túmulo de Sarita virou santuário, com filas enormes de pessoas que se aglomeravam em busca dos milagres.

Ignorando a realidade do lado espiritual, não sabiam o mal que estavam fazendo aquele espírito que desesperado se via fora do corpo carnal, mas grudado nele, sentindo sua deterioração.

Em desespero total e agarrada as suas jóias com as quais foi sepultada, Sarita pedia socorro. Os amparadores espirituais lá estavam querendo ajudá-la, mas ela sequer os enxergava dentro do seu desespero e revolta pelo acontecido.

Ouvia toda a movimentação que se fazia fora de seu túmulo e por mais que gritasse, ninguém a ouvia.

Se existia inferno, o seu era esse.

Tudo aquilo durou longos e tenebrosos anos, até o dia em que seu túmulo foi assaltado durante a noite e os ladrões levaram suas preciosas jóias.

Em desespero, assistindo a tudo, nada podia fazer, restando-lhe apenas um monte de ossos. Só então se deu conta de sua verdadeira situação e lembrou do que sua mãe a ensinara quando pequena sobre a vida após a morte.

A lembrança de sua mãe a fez chorar, implorando que ela viesse tira-la daquele sofrimento.

Depois disso desacordou e só depois de muito tempo hospitalizada no mundo espiritual é que acordou, sabendo do isolamento que se fizera necessário em função das emanações vindas da terra, por causa de sua falsa "santificação"

Seu povo agora usava a imagem da idolatrada Sarita em medalhas que eram vendidas como milagreiras, além de manter seu túmulo como verdadeiro comércio visitado por caravanas vindas de lugares distantes.

Lembrava do dia em que, já curada e equilibrada pode visitar aquele lugar junto com seus amparadores, para seu próprio aprendizado, bem como das palavras sábias de seu instrutor:

a.. Filha, o mundo ainda teima em manter os mercadores do templo. Criam-se os milagreiros que após o desencarne passam a ser santificados de maneira egoísta e mesquinha, preenchendo o vazio que a falta de uma fé racional se faz no coração dos homens.

Mentiras mantidas por pastores que visando o brilho do ouro, traçam caminhos duvidosos e perigosos para suas ovelhas, dando com isso, imenso trabalho à espiritualidade deste lado da vida.

Criam uma farsa que é mantida pelo desespero de pessoas ignorantes e sofredoras, obrigando-nos a formar verdadeiros exércitos de trabalhadores com disponibilidade de atendimento a essas criaturas.

Mesmo assim, por mais errado que seja esse tipo de atitude, a Luz o aproveita para auxiliar os necessitados mantendo ali um pronto socorro.

E fora o sofrimento do espírito "santificado" que se vê vivo e impotente do outro lado, aliado a distorção comercial, esses lugares servem para que muitos espíritos encontrem ali o portal de retorno.

Sarita tentando manter o equilíbrio e as emoções, via o intenso movimento de espíritos trabalhadores, socorrendo os desencarnados que vinham em bando junto aos romeiros e observava pela primeira vez como aconteciam os chamados milagres.

Uma senhora chorosa, ajoelhada ao pés do túmulo implorava pelo espírito de Sarita a cura de sua filhinha que estava ficando cega devido a uma doença rara que exigia cirurgia caríssima, longe de suas possibilidades financeiras.

A fé dessa mulher e o a amor por sua filha eram tão intensos que de seu cardíaco e de seu coronário exalavam chispas luminosas que se perdiam no ar.

Ao seu lado, dois espíritos confabulavam analisando uma ficha com anotações e logo em seguida um deles, colocando a mão sobre a cabeça da mulher transmitiu-lhe vibrações coloridas que a acalmaram, intuindo-a a ter a certeza de que seu pedido seria atendido.

Deixando algumas flores sobre o túmulo ela se retirou.

Curiosa, foi ter com os dois jovens, querendo saber o que realmente acontecia nesses casos.

a.. Minha irmã, analisamos cada caso e dentro do merecimento de cada espírito e de acordo com a fé e sinceridade de propósitos, sempre respeitando a lei e o livre-arbítrio das criaturas envolvidas, procuramos auxiliar.

Essa senhora será procurada por um grupo de estagiários de medicina que mesmo como cobaia de seus estudos, levarão sua filha a cirurgia de que necessita, retornando a ela a visão.

b.. Ah, e certamente isso será atribuído a mim como mais um milagre.

c.. A você? - indagou contrariado um dos jovens.

d.. Sim...ah, me desculpem, não me apresentei.

Sou a própria, a cigana Sarita.

e.. Nossa, que surpresa!!! Muito prazer! Não é todo dia que se conhece uma "santa", brincou o outro.

Com um sorriso amarelo, Sarita tentou em vão desconversar, pois agora a curiosidade deles era maior do que a dela em saber detalhes de como tudo isso havia ocorrido.

E longe dali, em lugar mais propício, junto a natureza eles trocaram válidas experiências.

Mas agora tudo isso eram lembranças.

Aquele espírito em cuja última encarnação terrena viera como uma cigana que se chamava Sarita, agora no mundo espiritual se comprometia e assumir um trabalho difícil no qual sentiria de perto, novamente o preconceito dos seres humanos.

Preconceito esse tão grande e revestido de tamanha ignorância que certamente muitas vezes seria tratada como verdadeiro "demônio" sendo expulsa como tal.

Mesmo assim, sabia que teria que atuar dentro da lei e ignorando tudo isso, trabalhar com muito amor, auxiliando os encarnados a se curarem das mazelas, pois só assim curaria as suas que estavam impressas em seu átomo primordial, carecendo de urgente reparo.

Enquanto seu médium girava no terreiro ecoando uma gargalhada que avisava a chegada de pomba gira cigana, romeiros continuavam buscando no túmulo da Santa Cigana Sarita, o milagre que ignoravam residir apenas dentro deles mesmos.

História contada por Vovó Benta

Leni W.S ( inserida no livro Causos de Umbanda II - no prelo - Edit.do Conhecimento)