segunda-feira, 29 de setembro de 2008
Presidente do templo atacado por fanáticos perdoa agressores: 'Eles não sabem o que fazem'
Intolerância e perdão
Publicada em 04/06/2008 às 17h01m
Mariane Thamsten - O Globo Online
RIO - Dois dias após o ataque de quatro jovens evangélicos a um templo de umbanda e kardecismo no Catete , o peso da intolerância religiosa ainda paira no ar. O presidente do centro Cruz de Oxalá, Clemente Abtibol Neto, ainda procura compreender a atitude extrema daqueles jovens, que, segundo ele, ainda têm uma vida inteira pela frente para aprender a praticar a caridade ensinada por Jesus Cristo.
- Assim como Jesus sofreu todo tipo de violência, nós também estamos sujeitos a agressões por causa das diferenças entre as formas de crer. Não tenho nada contra os jovens que agrediram nossa casa de oração. Eu só repito as palavras de Cristo na cruz: 'Pai, perdoa-os, eles não sabem o que fazem' - disse seu Clemente, com a voz mansa, como um pai que perdoa uma travessura de um filho.
Mas, ao lembrar-se da barbárie, seu Clemente, de 84 anos, volta a se emocionar. Ele conta que estava num local de Convivência da Terceira Idade da Aeronáutica quando recebeu a visita do filho e da nora, com o jornal nas mãos.
- Chorei de tristeza e descontentamento, não pela agressão em si, mas pela violência gratuita contra um povo que só prega a caridade. A imagem que eles (os jovens) destruíram era uma relíquia, trazida pelo fundador do centro há anos - lembra seu Clemente, presidente da entidade há mais de 30 anos.
Deputado visitará templo depredado
O líder espiritual estranha o ataque dos jovens evangélicos, já que a religião prega, acima de tudo, o amor ao próximo, como ele mesmo afirmou.
- O que mais machuca é que, em vez de distribuírem carinho e amor ao próximo, o primeiro mandamento divino, alguns evangélicos maculam a própria fé, espalhando a violência e a falta de respeito ao próximo.
Abalada com o ocorrido, a filha dele, Regina Coeli Abtibol, de 30 anos, disse que jamais pensaria que alguém pudesse entrar num templo religioso para destruir e agredir os freqüentadores.
- Primeiro eu fiquei com o coração partido. A gente tem uma linha de perdoar e de levar a caridade a qualquer pessoa, mas quando soube do que aconteceu, fiquei magoada e triste de saber que um caso desses tenha acontecido em pleno século 21. É um retrocesso - lamenta.
Ela acredita ainda que os jovens teriam usado a igreja para justificar o ato de vandalismo.
- Acho que eles (os agressores) já estavam com vontade de arrumar confusão, a religião foi uma mera desculpa para justificar a violência - disparou Regina, que cresceu no centro de umbanda.
Não é a primeira vez que fanáticos religiosos atacam freqüentadores do templo Cruz de Oxalá, na Rua Bento Lisboa 146, no Catete, invadido e depredado, na noite de segunda-feira, por quatro membros da igreja neopentecostal Geração Jesus Cristo. Segundo um dos diretores do centro Celso Quadros, em quase todos os dias de funcionamento da entidade, grupos de religiosos agridem e ofendem as pessoas que estão na rua aguardando para entrar. Diretores do templo atacado entrarão com uma ação na Justiça por danos .
Ministro defende punição mais rigorosa para religiosos que preguem a intolerância
RIO - "As religiões de matriz africana são as mais vulneráveis ao preconceito, principalamente por parte de outras religiões". A afirmação foi feita neste domingo pelo ministro da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Edson Santos, para quem é necessário combater essa prática que, muitas vezes, se faz por meio da violência. Ele defendeu a criação de um dispositivo "claro", que criminalize o preconceito por parte de outras religiões.
- Talvez seja necessário um dispositivo legal, que criminalize de forma muito clara essas manifestações religiosas, punindo seus responsáveis - disse. - Na maioria das situações, os lideres não aparecem, mas seus seguidores são instrumentalizados e orientados a ofender e agredir as religiões, em especial, as de matriz africana - completou o ministro.
Em entrevista à imprensa, antes de participar da Caminha pela Liberdade Religiosa, em Copacabana, no Rio, o ministro Edson Santos disse que a legislação atual não é aplicada com rigor. Mas, ponderou que a intolerância é praticada por uma pequena parte da população.
- Tenho certeza de que a sociedade de vários matizes se coloca de forma contrária e dura contra a discriminação - disse.
Atualmente, a maioria dos crimes de preconceito religioso no país são enquadrados no Artigo 208 do Código Penal, que estabelece detenção de um mês a um ano, ou multa - que pode ser aumentada em até um terço, no caso do emprego da violência -, para os casos de intolerância, como o dos jovens que destruíram um centro espírita no Rio, em junho passado.
No entanto, muitas lideranças de religiões de matriz africana, como a umbanda e o candomblé, pedem para que os casos de preconceito contra fiéis ou desrespeito a templos e imagens sejam julgados sob Lei Caó, que pune com reclusão de um a três anos, além de multa, quem praticar, induzir ou incitar a discriminação ou preconceito de raça, etnia ou religião.
Manifestação na Praia de Copacabana pede fim do preconceito contra religiões africanas
RIO - Religiosos , intelectuais e artistas já estão concentrados na Praça do Lido, na zona sul do Rio, para participar de uma caminhada na Praia de Copacabana em protesto contra a intolerância religiosa.
Eles querem reafirmar a defesa do direito constitucional de liberdade de culto e pedir o fim da violência contra os praticantes de religiões africanas como a umbanda e o candomblé.
No mês de junho, quatro jovens evangélicos invadiram um centro espírita no Catete, Zona Sul da cidade, insultaram fiéis e quebraram todas as imagens e objetos do local.
Os jovens foram presos em flagrante, mas soltos em seguida. Na semana passada, foram condenados a pagar multa, a distribuir cestas básicas e a cumprir quatro horas semanais de trabalho comunitário durante quatro meses.
O Código Penal prevê prisão de um mês a um ano ou multa para quem comete esse crime. A pena pode ser acrescida de até um terço no caso de haver violência.
Assine O Globo e receba todo o conteúdo do jornal na sua casa
Eles querem reafirmar a defesa do direito constitucional de liberdade de culto e pedir o fim da violência contra os praticantes de religiões africanas como a umbanda e o candomblé.
No mês de junho, quatro jovens evangélicos invadiram um centro espírita no Catete, Zona Sul da cidade, insultaram fiéis e quebraram todas as imagens e objetos do local.
Os jovens foram presos em flagrante, mas soltos em seguida. Na semana passada, foram condenados a pagar multa, a distribuir cestas básicas e a cumprir quatro horas semanais de trabalho comunitário durante quatro meses.
O Código Penal prevê prisão de um mês a um ano ou multa para quem comete esse crime. A pena pode ser acrescida de até um terço no caso de haver violência.
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'Salve a Umbanda', um debate ecumênico sobre a intolerância religiosa
Enviado por Logo - 9/6/2008- 2:06
Salve a Umbanda
"A umbanda é a mentira!", vociferou o pastor Adão José dos Santos, da Igreja Pentecostal dos Milagres, no Grajaú, em depoimento à repórter Adriana Diniz, do jornal Extra (especial para esta página), na mesma semana em que jovens evangélicos destruíram um centro umbandista no Catete. Depois, disse que só se deve pregar pela palavra, não pela violência, esquecendo-se de que a violência é costumeiramente incitada com palavras como as suas. A seguir, outras palavras - umbandistas, evangélicas, católicas e judaicas - que têm em comum a celebração do amor, da liberadade de culto, da democracia, e o repúdio à intolerância. (Arnaldo Bloch)
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'Na minha casa não mexem’
Mãe Fátima Damas,
Presidente da Congregação Espírita
Umbandista do Brasil
Como presidente
de uma casa que
congrega 2.300
terreiros há 46
anos, nunca me
omito. Quando
subi a escadinha
no Catete senti uma punhalada
no peito. São nossos ícones. O
sagrado de um ser humano é
coisa séria. Ninguém tem direito
de tocar. Vi o senhorinho que
preside a casa e mora em asilo,
chorando: “é a minha vida”, di-
zia, trêmulo. Ali tinha imagem
de 80 anos, coisa que não se en-
contra mais. São objetos iman-
tados, preparados pelas entida-
des fundadoras.
Por isso, criamos uma comis-
são de tolerância religiosa, reu-
nimos 70 lideranças e fomos pa-
ra a Alerj, onde o presidente Jor-
ge Picciani ia nos receber. Mas
na hora H, era uma deputada
evangélica da Universal. Cantei
o hino da umbanda e saímos to-
dos, esvaziando a reunião. Os
deputados que nos apoiavam
disseram que perdemos uma
oportunidade. Mas não: fomos
para a escadaria, tratamos um
carro de som e pusemos a boca
no mundo.
Assim conseguimos um en-
contro com o secretário de se-
gurança José Mariano Beltrame,
para a próxima quarta-feira. E
vamos ao Cabral, e ao Lula. Ela-
boramos também um documen-
to para dar entrada no Ministé-
rio Público, pois o delegado não
quis fazer o boletim direito, o
que acontece muito quando é
caso de umbanda e candomblé.
Teve que pressionar, e assim
mesmo registraram como van-
dalismo, não intolerância. Por
isso mandamos muita coisa di-
reto para o MP.
No site do pastor que orien-
tou aqueles rapazes tinha um ví-
deo em que ele instiga à violên-
cia. Já tirou do ar mas temos
uma cópia. Antigamente os
evangélicos não tinham proble-
ma com a gente. Era só a polícia.
Isso começou com o Bispo Ma-
cedo, uns 20 anos atrás. Por que
ele era umbandista da casa do
Tata Tancredo da Silva Pinto, es-
se negão aí na parede. Conheceu
o métier e depois foi só pancada
na televisão. Que somos demô-
nios, capetas. Vão martelando e
enterrando essas idéias nas ca-
beças. As conseqüências vêm
depois. E olha que é concessão
pública! Imagina se esse evangé-
lico entrar agora no governo...
Por isso, dia 21 de setembro
faremos uma grande caminhada
ecumênica pela liberdade de
culto, a nível nacional. Vou à lu-
ta. Dou a cara sem dó nem pie-
dade. Se tivesse sido na minha
casa aqui não ia ficar de graça,
não. Ainda não tive oportunida-
de de conversar com as entida-
des espirituais. Mas já estive
pensando, intuitivamente: será
que a casa do Catete foi penali-
zada para que se pudesse, ago-
ra, remexer o caldeirão, para as
coisas virem à tona, e, brotando,
a gente poder caminhar em paz?
Ou vai virar uma guerra santa?
Se não cuidar, entorna.
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Os fios invisíveis da violência
Pastor Edson Fernando de Almeida
Pastor da Igreja Cristã de Ipanema e
professor do Instituto Metodista Bennett
O fel da intolerância, da
projeção no outro do que há de
mais diabólico no ser humano,
manifesta-se com intensidade
em nossos dias. O ataque de
quatro jovens adoecidos por
uma religiosidade mórbida a um
centro umbandista no Catete é
um triste exemplo. Dói no
coração saber que esses
meninos na flor de sua
juventude estão dispostos a
matar em nome de Deus.
Que cristianismo é esse? O
que é ser cristão? Essas
questões me remetem à
paradoxal afirmação de Jesus de
Nazaré: felizes os pacificadores,
porque serão chamados filhos e
filhas de Deus. É que no
primeiro século da era cristã o
termo pacificador aparecia nas
moedas do império romano
designando o Imperador. Era
aquele que, pelo uso da
violência ou não, assegurava a
continuidade do império. “Se
queres a paz, prepara-te para a
guerra!”
Mahatma Gandhi assim
interpretou as palavras de
Jesus: “Somos semelhantes a
Deus, à medida em que nos
tornamos não violentos!”. E a
busca da não violência tem a
ver com uma metamorfose do
nosso ecossistema afetivo e
social: o enfrentamento de um
certo analfabetismo afetivo que
marca nosso tempo. É preciso
buscar e ensinar a serenidade
mais que o barulho; dar e
oferecer em detrimento de
dominar, reter; escolher a
sensibilidade para superar o
ódio; e a singularidade para
vencer o esmagamento das
subjetividades; ouvir mais e
falar menos; servir, mais que ser
servido; a esvaziar-se em
direção ao “ser”, mais que
encher-se em direção ao “ter”.
A história da humanidade já
conheceu mais de 8 mil tratados
de paz. Nenhum trouxe a paz. É
que a paz é irmã do amor e,
como ele, não se alcança por
decreto. A vitória só leva à
vitória, jamais à paz. É um
contra-senso “lutar” pela paz.
Luta-se pelos direitos humanos,
pela justiça. A paz brota,
aparece, se recebe, se descobre.
Não é a paz dos tranqüilizantes,
dos cemitérios, dos confortos
comprados, ou a falsa paz dos
muros altos, das prisões.
Os quatro jovens haverão de
pagar pela intolerância que os
tomou. Mas nossa dor só gerará
proveito se for capaz de ir além
da condenação. É preciso
reconhecer os fios invisíveis da
violência no interior de nossas
orientações culturais, no
interior de nossas religiões, de
nossas casas e de nós mesmos.
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Intolerância, sinônimo de ignorância
Sílvio Rabaça
Jornalista, mestre em filosofia e fiel católico
A história da humanidade tem
sido marcada pela intolerância
religiosa e há quem proponha
que o fanatismo continuará a
instigar conflitos no futuro. Esse
tipo de análise, porém, quase
não deixa ver que o diálogo
entre as religiões pode ser um
dos caminhos mais sólidos para
o entendimento entre as
pessoas e as civilizações.
O leigo costuma desconfiar da
religião, e isso provavelmente se
deve a seu aspecto mais
controverso: o proselitismo.
Não compreende, por exemplo,
que o cristão (católico , como
eu, ou de outra igreja) não abra
mão de um preceito que lhe é
caro, como o de pregar o
evangelho. Como ele irá
respeitar, então, uma crença que
não se coadune com a sua?
Talvez valesse a pena inverter
a pergunta: será que, para que
haja diálogo, é preciso abrir
mão de suas convicções? A
resposta, obviamente, é não,
sob pena de que a religião perca
o sentido e o crente a própria
fé. As religiões, por mais
distintas que sejam entre si,
guardam muitos princípios em
comum, como a defesa da vida e
o respeito ao outro. Diante deles
o proselitismo tem bem menos
importância. E, ao contrário do
que muitos possam acreditar, as
religiões não prescindem da
razão, por mais falível que essa
possa ser. “Religiosa” pode ser
predicado para intolerância,
mas esta talvez não passe de
pura ignorância.
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A única força está no amor
Pastor Eduardo Rosa Pedreira
Pastor da Comunidade Presbiteriana da Barra da Tijuca
A juventude é um momento da
nossa vida fértil para o
florescimento de ideais pelas
quais lutar. É triste constatar
que, ao invés de serem
inspirados na construção do
Reino de Deus na nossa
sociedade, os jovens que
invadiram o centro umbandista
foram convidados a entrar
numa guerra religiosa, na qual o
outro deixa de ser um possível
cúmplice para o bem estar de
todos e se torna um inimigo a
ser corrigido ou agredido.
Neste contexto, é necessário
mais do que nunca, insistir na
idéia de que a força de uma
verdade religiosa não está na
imposição violenta da mesma,
mas sim no poder de sedução
advindo da coerência e do amor
com que é apresentada. Esta foi
a atitude de Jesus e através dela
ele conquistou o coração dos
seus mais ferrenhos inimigos.
Portanto, sua igreja e seus
adeptos não estão autorizados
pelo mestre do amor e da
coerência a agir de uma outra
maneira.
Fica aqui minha solidariedade
aos agredidos, meu repúdio à
ação dos agressores e meu
protesto profético contra toda e
qualquer atitude que se oponha
aos inalienáveis direitos a que
todos os cidadãos têm em nossa
sociedade.
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Humano: a mais sagrada criação
Osias Wurman
Jornalista e vice-presidente da Confederação Israelita do Brasil.
Um dos mais importantes
ícones da sabedoria judaica,
Rabi Akiva, que viveu nos
primórdios da Era Comum,
resumia todos os mandamentos
da Lei de Moisés, a Torá, numa
frase: “E amarás o teu próximo
como a ti mesmo”. Os recentes
episódios de agressões e
calúnias entre religiosos de
diferentes crenças são motivo
de critica para todos que
acreditam na fé de Moisés. É
inaceitável que em nome de
Deus pratiquem-se atos de
violência contra a mais
importante das criações divinas:
o ser humano. Nada pode
justificar a invasão de locais de
culto, com a depredação de
símbolos que são sacros para
terceiros. Outra máxima para a
convivência religiosa pode ser
tirada do ensinamento: “o
direito de cada um termina
onde começa o do outro”. São
repugnantes as cenas movidas
pelo fundamentalismo religioso,
que em nossos dias se reflete
em vandalismo, ofensa e terror
suicida. O princípio básico de
todas as religiões deve ser
respeitar as opções pessoais,
amando ao próximo,
independentemente de credo.
INTOLERÂNCIA
Jovens depredam templo religioso no Catete e insultam freqüentadores
Publicada em 03/06/2008 às 12h35m
Natanael Damasceno - O Globo e TV Globo
RIO - Quatro jovens da igreja Geração Jesus Cristo invadiram e depredaram o templo Cruz de Oxalá, no Catete, no início da noite desta segunda-feira. Aos gritos, três rapazes e uma jovem, todos aparentando ter cerca de 20 anos, insultaram os fiéis e quebraram todas as imagens e utensílios que estavam no local. Contidos pelos dirigentes do centro, os quatro foram levados para a 9ª DP (Catete), prestaram depoimento e foram liberados.
Pastor se diz surpreso com ataque
Horas depois de terem sido presos, os jovens saíram sem dar nenhuma declaração. Eles disseram apenas que faziam parte de uma igreja evangélica chamada Geração Jesus Cristo.
De acordo com o site G1, o pastor Tupirani, responsável pela Igreja Geração Jesus Cristo, condenou o ataque:
- Fiquei muito surpreso. Eles não deviam ter feito o que fizeram, não incentivamos esse tipo de atitude - disse, assegurando que os quatro integrantes detidos em flagrante depois de invadir e quebrar imagens no local, são "exemplos dentro da igreja".
Ataque no início da noite
O ataque começou pouco antes das 19h, quando uma fila com pouco mais de 20 pessoas aguardava a abertura do centro, que funciona em um sobrado na Rua Bento Lisboa. O grupo perguntou a uma das freqüentadoras para que era a fila e, diante da resposta, teria começado a demostração de intolerância.
"
Eles agrediram verbalmente todos os que estavam na fila e aproveitaram a porta aberta para entrar correndo
"
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- Quando disse que estávamos ali para a consulta, eles começaram a nos insultar. Aos gritos, diziam que, por ordem de Jesus, devíamos abandonar o demônio, que estaria ali presente. Eles agrediram verbalmente todos os que estavam na fila e aproveitaram a porta aberta para entrar correndo - contou a advogada Sylvia Santana.
Os dirigentes do centro têm medo de novos ataques:
- Será que outros não aparecerão? Não só na nossa igreja, mas também em outras. Isso realmente causa preocupação - ressaltou a advogada Cristina Moreira.
O centro mistura conceitos de religiões afro-brasileiras e do Kardecismo. Segundo seus dirigentes, ele está no bairro há pouco mais de dez anos e sempre conviveu pacificamente com vizinhos católicos e evangélicos. Os ataques teriam começado há alguns meses, depois que uma nova igreja evangélica se instalou nas proximidades.
De acordo com o telejornal "RJTV", na página que a congregação mantém na internet, vídeos e textos apresentam diversas críticas a outras doutrinas e crenças religiosas, com palavras agressivas. Em um dos textos, intitulado "Alerta para a população", há um relato de que outros incidentes, como o desta segunda-feira, já tinham acontecido.
Segundo o RJTV, os seguidores da igreja teriam trocado socos e tapas com integrantes de outra igreja evangélica, em Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e também no interior do estado, no município de Mendes.
Os quatro invasores foram autuados e vão responder por ameaça, dano contra o patrimônio e por desrespeito a culto ou prática religiosa. As penas variam de um mês a um ano de cadeia, mais multa.
quarta-feira, 3 de setembro de 2008
INCENSOS
Jasmim
Ajuda a superar o estresse e o esgotamento nervoso. Proporciona fé e favorece a prática de meditação.
Limão
Tem efeitos purificadores amplos: afasta as más vibrações dos ambientes, estimula a cura e ajuda a enxergar os acontecimentos com maior lucidez.
Angélica
Aumenta a afetividade, faz aflorar a compaixão e favorece a prática da filantropia. É excelente para purificar ambientes de hospitais, asilos, instituições de caridade, etc.
Patchuli
Ajuda a agir com mais autocontrole e objetividade. Ameniza a raiva e a ansiedade, permitindo a tomada de decisões concretas e sensatas.
Mirra
Estimula a intuição, a fé e a sensibilidade. Este aroma é especialmente indicado para as práticas de oração e meditação.
Ylang-Ylang Afrodisíaco. Deve ser usado sobretudo por mulheres, pois exerce efeito atrativo sobre o sexo masculino.
Lavanda
Estimula as atividades mentais, a sensibilidade, a inteligência e a criatividade. Favorece o aprendizado e os estudos esotéricos.
Alfazema
Proporciona equilíbrio emocional, dá coragem para batalhar pelas coisas que se deseja, favorece a prática da oração, aumenta o sentimento de fé.
Camomila
Aumenta a vitalidade física, traz serenidade, favorece os trabalhos criativos e aguça os sensos de responsabilidade e disciplina.
Arruda
Traz proteção espiritual, proporciona autoconfiança e ajuda a eliminar as energias negativas dos ambientes.
Cedro
Desperta o apetite sexual, estimula a força física e tem bons efeitos como purificador de ambientes.
Almíscar
Quando usado por mulheres, tem efeitos afrodisíacos. Também estimula a fé, trazendo uma grande confiança no momento de enfrentar obstáculos.
Madressilva
Estimula a sensibilidade, o desprendimento e a compaixão. Ajuda a ser menos materialista e a dar maior importância aos valores espirituais.
Cravo
Ajuda a controlar as emoções e a superar o medo e o complexo de inferioridade. Fortalece internamente e afasta o sentimento de rejeição.
Rosa
Beneficia os assuntos de ordem afetiva e a espiritualidade. Também estimula a intuição e ajuda a superar medos antigos.
Alecrim
Revitaliza, ajuda a superar os dissabores amorosos, proporciona maior resistência física.
Acácia
Tem efeito revigorante, proporciona autoconfiança, estimula a espiritualidade e favorece os assuntos de ordem material. É ótimo para purificar ambientes.
Âmbar
Aguça a sensualidade, favorece a coragem e permite lidar com os deveres de forma mais sensata e responsável
A outra mãe
Neide tinha somente 14 anos quando resolveu deixar a roça e tentar a vida na cidade grande.
Chegou ao Rio de Janeiro e, sem qualificação profissional alguma, teve algumas dificuldades. Minha avó a admitiu em sua casa e a ensinou a cozinhar, arrumar a casa e até a andar pelas ruas sem medo.
Os anos se passaram. Quando eu tinha somente 3 meses de vida, Neide foi morar conosco e ser a minha babá.
Mais anos se passaram, nasceram meus irmãos. Algumas babás chegaram e foram embora, e Neide ficou.
Babá de três crianças, com pouco mais de um ano de diferença entre si.
O que é uma babá? É alguém que é paga para trocar fraldas, levar as crianças à pracinha, brincar, pôr para dormir. Pois é, acho que Neide nunca foi minha babá.
Não que ela não tenha feito tudo isso, mas nunca o fez como babá somente.
Neide me ensinou, por exemplo, a fazer conta de dividir. E, no ano seguinte, ao meu irmão. E, no seguinte, à minha irmã.
Isso foi uma daquelas coisas interessantes da vida: três filhos de um economista brilhante e uma advogada com pós-graduação na Alemanha, estudando num dos melhores colégios da cidade, mas que só aprenderam a fazer conta com aquela outra mãe, a que viera da roça e não tinha nem o segundo grau completo.
Por vezes, minha mãe, que trabalhava fora, tentou convencer Neide a voltar a estudar. Quis que ela aprendesse a dirigir e lhe ofereceu um carro de presente. Ela, porém, recusou.
Na época, lembro que me revoltava com a inércia de Neide. Queria que ela evoluísse. Mal sabia que ela desempenhava com maestria a profissão que tinha escolhido abraçar: ser nossa mãe.
O tempo passou. Nós crescemos. Um dia, chegou a notícia. O pai de Neide, diabético, precisava ter parte de sua perna amputada.
Novos cuidados iam ser necessários e a mãe de Neide, já uma senhora, não teria condições de tomar conta do marido sozinha.
Foi assim que aos 17 anos, tive de me despedir da minha segunda mãe que, depois de quase 30 anos na cidade, com minha família, precisou voltar para a roça.
Ela nunca teve filhos biológicos. Mas seria tolice dizer que ela não foi mãe. Ela foi a melhor mãe que uma criança pode ter, e eu fui a criança mais feliz do mundo por ter sido criada não por uma, mas por duas mães maravilhosas.
* * *
O texto retrata a homenagem de uma pessoa agradecida a alguém que, em sua vida, representou um grande papel.
Em muitas vidas, ocorre assim. Serviçais são contratados e surpreendem pela dedicação com que desempenham as tarefas, muito além do próprio dever.
Quase sempre são Espíritos amigos que se comprometem a zelar pelos seus afeiçoados. Surgem então, na feição de criaturas que se transformam em anjos guardiões de vidas, e atravessam os anos, em total dedicação.
Estão com os seus tutelados no primeiro dia de aula, segurando-lhes a mão. Verificam se eles fizeram a lição de casa. Inspecionam o banho dos menores, preocupam-se com os horários das refeições e dos medicamentos.
Acompanham-nos a festinhas e, muitas vezes, se transformam em confidentes dos adolescentes.
Nos tempos da escravatura, eram chamadas de amas de leite. Hoje, de babás. O nome, em verdade, não importa.
O que importa é reconhecer que Deus coloca em nossas vidas seres especiais, no auxílio à nossa tarefa de pais e mães.
Cumpre reconhecer-lhes as presenças e lhes render as homenagens do coração que goza da ventura de merecer o seu apoio para a sagrada missão de orientar os próprios rebentos.
* * *
A gratidão pode se expressar de várias formas. Algumas crianças a traduzem de forma espontânea, colocando apelidos carinhosos naqueles que as cercam de cuidados.
Por vezes, a expressão que escolhem, no vocabulário da alma, é o doce nome de mãe.
Redação do Momento Espírita com base em texto da Revista Seleções do Reader’s Digest de abril/2003, atribuído a Paula Foschia.
Em 09.05.2008.
QUILOMBO DOS PALAMARES
Quilombo dos Palmares
A partir do início do século XVII, os escravos que conseguiam fugir das fazendas e dos engenhos começaram a reunir-se em lugares seguros e ali ficavam vivendo em liberdade, longe de seus senhores. Estes lugares ficaram conhecidos por “quilombos” e seus habitantes, “quilombolas”.
Houve muitos quilombos no Brasil. O mais importante foi o “Quilombo de Palmares”, instalado na Serra da Barriga, onde hoje é o estado de Alagoas. Durou mais de sessenta anos e chegou a contar com uma população de vinte mil habitantes, o que era bastante para a época. Na verdade, era um quilombo formado de vários outros, organizados sob a forma de reino.
Quando houve a Invasão da Holanda, os diversos quilombos que o compunham foram reforçados, pois inúmeros escravos deixavam os lugares onde viviam e iam refugiar-se nos quilombos, aproveitando a ausência dos seus senhores, que também fugiam dos invasores.
Enquanto os brasileiros e portugueses lutavam contra os holandeses, os fugitivos trataram de fortalecer os seus quilombos.
No princípio, para poder viver, os quilombolas praticavam assaltos às fazendas e povoados mais próximos. Pouco a pouco, foram-se organizando, cultivando a terra e trocando parte das colheitas por outras coisas de que precisavam.
Durante o tempo em que brasileiros e portugueses estavam ocupados, combatendo os invasores, os negros viveram sossegados. Logo, porém, que os holandeses deixaram de ser preocupação, os brancos começaram a combater os quilombolas.
Apesar dos inúmeros ataques que realizaram, os brancos não conseguiram arrasar os quilombos, como era sua intenção.
Os quilombos estavam bem reforçados, os negros eram corajosos e, ainda por cima, lutavam pela liberdade!
Por fim, o governo de Pernambuco solicitou a ajuda do bandeirante paulista Domingos Jorge Velho, que preparou uma expedição para derrotar os fugitivos.
Também ele falhou nas primeiras tentativas, mas não desistiu. Organizou um exército realmente poderoso e voltou ao ataque. Mesmo assim, a resistência dos quilombolas foi tão grande, tão valente, que a luta durou perto de três anos.
Os negros tinham uma desvantagem: estavam cercados. Enquanto os atacantes podiam conseguir reforços e munições de fora, principalmente contando com o interesse do governo, os quilombolas encontravam-se sozinhos e apenas podiam contar com o que possuíam. É claro que, um dia, a munição dos sitiados tinha de se esgotar. Quando isto se deu, muitos negros fugiram para o sertão. Outros se suicidaram ou renderam-se aos atacantes.
A Morte de Zumbi
Segundo nos conta a tradição, logo no início da formação do quilombo, foi escolhido um rei:chamava-se Gangazuma. Habitava um palácio denominado Musumba, juntamente com seus parentes, ministros e auxiliares mais próximos. Organizara e mantinha sob seu comando um verdadeiro exército.
Um dia, morreu Gangazuma. Os quilombolas ficaram tristes, mas a vida continuava e eles precisavam de um novo rei.
Elegiam vitaliciamente, um Zumbi, o senhor da força militar e da lei tradicional.
Não havia ricos, nem pobres, nem furtos nem injustiças. Três cercas de madeira rodeavam, numa tríplice paliçada, o casario de milhares e milhares de homens.
Ao princípio, para viver, desciam os negros armados, assaltando, depredando, carregando o butim para as atalaias de sua fortaleza de pedra inacessível.
Depois o governo nasceu e com ele a ordem; a produção regular simplificou comunicações pacíficas, em vendas e compras nos lugarejos vizinhos; constituiu-se a família e nasceram os cidadãos palmarinos.
As plantações ficavam nos intervalos das cercas, vigiadas pelas guardas de duzentos homens, de lanças reluzentes, longas espadas e algumas armas de fogo.
No pátio central, como numa aringa africana, o primeiro governo livre em todas as terras americanas.
Ali o Zumbi distribuía justiça, exercitava as tropas, recebia festas e acompanhava o culto, religião espontânea, aculturação de catolicismo com os rituais do continente negro.
Vinte vezes, durante a existência, foram atacados, com sorte diversa, mas os Palmares resistiam, espalhando-se, divulgando-se, atraindo a esperança de todos os escravos chibateados nos eitos de Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia.
A república palmarina desorganizava o ritmo do trabalho escravo em toda a região. Dia a dia fugiam novos cativos, futuros soldados do Zumbi, com seu manto, sua espada e sua lança real.
Debalde o Zumbi levou suas forças ao combate, repelindo e vencendo. O inimigo recompunha-se, recebendo víveres e munições, quando os negros, sitiados, se alimentavam de furor e de vingança.
Numa manhã, todo exército atacou ao mesmo tempo, por todas as faces. As paliçadas foram cedendo, abatidas a machado, molhando-se o chão com o sangue desesperado dos negros guerreiros.
Os paulistas de Domingos Jorge Velho; Bernardo Vieira de Melo com as tropas de Olinda; Sebastião Dias com os homens de reforço – foram avançando e pagando caro cada polegada que a espada conquistava.
Gritando e morrendo, os vencedores subiam sempre, despedaçando as resistências, derramando-se como rios impetuosos, entre as casinhas de palha, incendiando, prendendo, trucidando.
Quando a derradeira cerca se espatifou, o Zumbi correu até o ponto mais alto da serra, de onde o panorama do reino saqueado era completo e vivo. Daí, com seus companheiros, olhou o final da batalha.
Paulistas e olindenses iniciavam a caçada humana, revirando as palhoças, vencendo os últimos obstinados.
Do cimo da serra, o Zumbi brandiu a lança espelhante, e saltou para o abismo.
Seus generais o acompanharam, numa fidelidade ao Rei e ao Reino vencidos.
Em certos pontos da serra ainda estão visíveis as pedras negras das fortificações.
E vive ainda a lembrança ao último Zumbi, o Rei de Palmares, o guerreiro que viveu na morte seu direito de liberdade e de heroísmo...
Histórias e Lendas do Brasil (adaptado do texto original de Gonçalves Ribeiro). - São Paulo: APEL Editora, sem/data
Lendas Brasileiras / Câmara Cascudo. - Rio de Janeiro: Ediouro, 2000
Ilustrações de J. Lanzellotti
SALVE VOVÓ MARIA
“A ingratidão é um dos frutos mais imediatos do egoísmo; revolta sempre os corações honestos.”
Vovó Maria fumegava seu pito e batia seu pé ao som da curimba enquanto observava o terreiro, onde os cambonos movimentavam-se atendendo aos pretos velhos e aos consulentes.
Mandingueira, acostumada a enfrentar de tudo um pouco nos trabalhos de magia, sabia perfeitamente como o mal agia tentando disseminar o esforço do bem.
Sob variadas formas, as trevas vagavam por ali também.
Alguns em busca de socorro; outros, mal-intencionados, debochavam dos trabalhadores da luz. Muitos chegavam grudados no corpo das pessoas, qual parasitas sugando sua vitalidade.
Outros, por sobre seus ombros, arqueando e causando dores nos hospedeiros, ou amarrados nos tornozelos, arrastavam-se com gemidos de dor. Fora os tantos que eram barrados pela guarda do local, ainda na porta do terreiro e que, lá de fora, esbravejavam palavrões.
Da mesma forma, o movimento dos exus e outros falangeiros se fazia intenso no lado astral do ambiente, para que, dentro do merecimento de cada espírito, pudessem ser encaminhados.
Uma senhora com ares de madame se aproximou da preta velha para receber atendimento. Vinha arrastando uma perna que mantinha enfaixada.
– Saravá, filha – falou Vovó Maria, enquanto desinfetava o campo magnético da mulher com um galho verde, além de soprar a fumaça do palheiro em direção ao seu abdome, o que fez com que a mulher demonstrasse nojo em sua fisionomia.
Fingindo ignorar, a preta velha, cantarolando, continuou a sua limpeza. Riscando um ponto com sua pemba no chão do terreiro, pediu que a mulher colocasse sobre ele a perna ferida.
“Será que não vai pedir o que tenho?”, pensou a mulher, já arrependida por estar ali naquele lugar desagradável. “Vou sair daqui impregnada por estes cheiros!”
Vovó Maria sorriu, pois captara o pensamento da mulher, mas preferiu ignorar tudo isso. O que a mulher não sabia era a gravidade real do seu caso, ou seja, aquilo que não aparecia no físico. Se ela pudesse ver o que estava causando a dor e o inchaço na perna, aí sim, certamente ficaria muito enojada. Na contraparte energética, abundavam larvas que se abasteciam da vitalidade do que já era uma enorme ferida e que breve irromperia também no físico.
Além disso, uma entidade espiritual, em quase total deformação, mantinha-se algemada à sua perna, nutrindo, assim, essas larvas astrais. Para qualquer neófito, aquilo mais parecia um cadáver retirado da tumba mortal, inclusive pelo mau cheiro que exalava.
Com a destreza de um mago, a preta velha sabia como desvincular e transmutar toda essa parafernália de energias densas, libertando e socorrendo a entidade escravizada a ela.
Feitos os devidos “curativos” no corpo energético da mulher, Vovó Maria, que à visão dos encarnados não fez mais que um benzimento com ervas e algumas baforadas de palheiro, dirigiu-se agora com voz firme à consulente:
– Preta Velha até aqui ouviu calada o que a filha pensou a respeito do seu trabalho. Agora preciso abrir minhas tramelas e puxar sua orelha.
Ouvindo isso, a mulher afastou-se um pouco da entidade, assustada com a possibilidade de que ela viesse mesmo a lhe puxar a orelha.
“Escutou o que pensei? Ah, essa é boa. Ela está blefando comigo.”, pensou novamente a mulher.
– Se a madame não acredita em nosso trabalho, por que veio aqui buscar ajuda? Filha, não estamos aqui enganando ninguém. Procuramos fazer o que é possível, dentro do merecimento de cada um.
– É que me recomendaram vir me benzer, mas eu não gosto muito dessas coisas...
– ...e só veio porque está desesperada de dor e a medicina não lhe deu alento, não foi filha? – complementou a preta velha.
– Os médicos querem drenar a perna e eu fiquei com medo, pois nos exames não aparece nada, mas a dor estava insuportável.
– Estava? Por quê, a dor já acalmou?
– É, agora acalmou, parece que minha perna está amortecida.
– E está mesmo, eu fiz um curativo.
A mulher, olhando a perna e não vendo curativo nenhum, já estava pronta para emitir um pensamento de desconfiança quando a preta velha interferiu:
– Vá para sua casa, filha, e amanhã bem cedo colha uma rosa do seu jardim, ainda com orvalho, e lave a sua perna com ela, na água corrente. Ao meio-dia o inchaço vai sumir e sua perna estará curada.
Não ousando mais desconfiar, ela agradeceu e já estava saindo quando a preta velha a chamou e disse:
– Não se esqueça de pagar a promessa que fez pra Sinhá Maria, antes dela morrer...
Arregalando os olhos, a mulher quase enfartou e tratou de sair daquele lugar imediatamente.
O cambono, que a tudo assistia calado, não agüentando a curiosidade perguntou que promessa foi essa.
– Meu menino, o que nós escondemos dos homens fica gravado no mundo dos espíritos. Essa filha, herdeira de um carma bastante pesado por ter sido dona de escravos em vida passada e, principalmente, por tê-los ferido a ferro e fogo, imprimindo sua marca na panturrilha dos negros, recebeu nesta encarnação, como sua fiel cozinheira, uma negra chamada Sinhá Maria.
Esse espírito mantinha laços de carinho profundo pela madame desde o tempo da escravidão, quando foi sua “Bá” e, por isso, única poupada de suas maldades. Nessa encarnação, juntaram-se novamente no intuito de que a bondosa negra pudesse despertar na mulher um pouco de humildade, para que esta tivesse a oportunidade de ressarcir os débitos, diante da necessidade que surgiria de auxiliar alguém envolvido na trama cármica.
Sinhá Maria, acometida de deficiência respiratória, antes de desencarnar solicitou à sua patroa que, na sua falta, assistisse seu esposo, que era paraplégico, faltando-lhe as duas pernas.
Deixou para isso todas as suas economias de anos a fio de trabalho e só lhe pediu que mantivesse com isso a alimentação e os medicamentos. Mas na primeira vez que ela foi até a favela onde morava o homem, desistiu da ajuda, pois aquele não era o seu “palco”. Tratou logo de ajustar uma vizinha do barraco, dando-lhe todo o dinheiro que Sinhá havia deixado, com a promessa de cuidar do pobre homem. Não é preciso dizer que rumo tomaram as economias da pobre negra; em pouco tempo, para evitar que ele morresse à míngua, a Assistência Social o internou em asilo público. Lá ele aguarda sua amada para buscá-lo, tirando-o do sofrimento do corpo físico. Nenhuma visita, nenhum cuidado especial. A madame se havia “esquecido” da promessa. Eu só fiz lembrá-la para que não tenha que voltar aqui com as duas pernas inválidas. A Lei só nos cobra o que é de direito, mas ela é infalível. Quanto mais atrasamos o pagamento de nossas dívidas, maiores elas ficam. Por isso, camboninho, negra velha sempre diz para os filhos que a caridade é moeda valiosa que todos possuímos, mas que poucos de nós usam. Se não acordamos sozinhos, na hora exata a vida liga o “desperta-dor” e, às vezes, acordamos assustados com a barulheira que ele faz... eh, eh, eh... Entendeu, meu menino?
– Sim, minha mãe. Lembrei que tenho de visitar meu avô que está no asilo...
Sorrindo e balançando a cabeça a bondosa preta velha falou com seus botões:
– Nega véia matô dois coelhos com uma cajadada só... eh, eh...
E, batendo o pé no chão, fumando seu pito e cantarolando, prosseguiu ela, socorrendo e curando até que, junto aos demais, voltou para as bandas de Aruanda.
Vovó Maria
Capítulo 4 do Livro Causos de Umbanda - Volume 2 - Outras Histórias de Vovó Benta - Ed. Conhecimento
SANTA SARA PADROEIRA DOS CIGANOS
Embaixo de uma árvore frondosa e afastada do acampamento, encontraram a cigana Soraya aos prantos com um bebê no colo. Naquela época fazia muito frio na Dinamarca, mas o neném parecia estar muito bem aquecido. Já não eram lágrimas de dor e talvez nem tudo estava perdido...
Casou-se bem cedo, possuindo todos os dotes que uma virgem cigana deveria ter. Como de costume, a noiva passou a pertencer à família do noivo, mas para a surpresa de todos, os dois clãs decidiram se unir, da mesma forma que se uniram Soraya e Karlon. No astral, iniciava-se mais uma jornada, onde oportunidades estavam sendo dadas a todos esses espíritos, pois para a misericórdia Divina nada se perde e tudo se transforma.
Até que, numa gélida e escura manhã de inverno, tiveram a confirmação através de umas das shuvanis do clã... Soraya tinha “ventre seco”. Logo ela, tão bela e formosa! – alguns falavam. Desgraça! – outros diziam. Ela foi amaldiçoada! – murmuravam. A única coisa que Soraya pensava era fugir dali, pois não existia mal pior do que esse para uma cigana. Sabia que iria ser repudiada, mas não suportaria ser condenada pelo marido também, o qual aprendeu amar e respeitar.
Enquanto os mais velhos preparavam a Kris-Romani, uma espécie de tribunal onde julgava casos como esse, ela conseguiu fugir. Correu, correu, correu... Já não tinha mais fôlego quando se deixou cair aos pés daquela árvore. Vários ciganos foram atrás dela, mas não a encontraram... Estava tão desesperada e esgotada que nem percebeu quando uma carruagem parou ali perto. Uma senhora, que mais parecia uma serviçal desceu e atirou em seus braços aquela inocente e indefesa criança sem ao menos dizer uma palavra. Fitando aquele lindo bebê, Soraya compreendeu que a alma é muito mais importante do que o corpo, pois a alma é eterna e o corpo apodrece. Mergulhou no azul dos seus delicados olhos e voou. Voou como se estivesse na imensidão do céu... Olhou para a carruagem, a qual já se desmanchava no horizonte. Ainda pode ver o brasão, que parecia ser de família nobre, mas não se importava com mais nada. Algumas crianças do clã, que estavam acostumadas a brincar por ali, a encontraram e quando levou novamente seu olhar para a carruagem, aquietou seu coração... Não era uma carruagem, era Santa Sara Kali, a mãe dos ciganos...
Retornou para o acampamento com as crianças, que viram tudo que tinha acontecido ali. O julgamento já estava sendo finalizado, mesmo sem a presença dela, quando pediu licença para falar, ainda com o Felipe nos braços. As ciganas não conseguiram conter as crianças, pois começaram a relatar tudo que viram. Deram permissão para que ela falasse, até porque queriam saber de onde vinha aquela criança. Seu marido ficou feliz quando a viu, pois compreendia e aceitava aquela condição de esterilidade, não concordando com a decisão da Kris-Romani. Na verdade, já tinha aceitado até mesmo antes de reencarnar e trazia isso em seu inconsciente.
A fé em Santa Sara Kali atravessou os mares mesmo durante as tempestades, transformou a tradição e ensinou a amar acima de tudo...
Felipe cresceu e parecia ter sangue cigano nas veias... Com ele, todos aprenderam que liberdade é muito mais do que imaginavam; que a liberdade vai além da matéria e que a liberdade vem da alma!
Mudanças são necessárias para que possamos evoluir, mesmo que seja através da dor. Cada um é responsável pelo seu baji, ou seja, destino; sempre de acordo com a semeadura.
Espíritos que num passado remoto se uniram para disseminar a “raça pura”, ontem se uniram para celebrar a união, dos noivos e dos clãs... O cigano Felipe, porta voz da “purificação da raça” de outrora; ontem de pele clara e olhos azuis se destacava entre os ciganos de sangue e de peles avermelhadas, aprendendo e ensinando que todos são irmãos, filhos do mesmo Pai.
Soraya se conformou, compreendeu e lutou, aproveitando a oportunidade que lhe foi dada. Arrependeu-se e pediu perdão por que ainda trazia em seu perispírito os abortos provocados em outras vidas, juntamente com o seu antigo cúmplice, o cigano Karlon. Transformou-se em uma linda cigana, curandeira das crianças, sempre com o Karlon ao seu lado.
Como disse o Mestre Jesus, nenhuma ovelha irá se perder!
Optcha!
Cigano Artêmio
SALVE SANTA SARA KALI, A PADROEIRA DOS CIGANOS!
PASSANDO PELA TERRA
Sempre útil não te esqueceres de que te encontras em estágio educativo na Terra.
Jornadeando nas trilhas da evolução, não é o tempo que passa por ti, mas, inversamente, és a criatura que passa pelo tempo.
Conserva a esperança em teus apetrechos de viagem.
Caminha trabalhando e fazendo o bem que puderes.
Aceita os companheiros do caminho, qual se mostram, sem exigir-lhes a perfeição da qual todos nos vemos ainda muito distantes.
Suporta as falhas do próximo com paciência, reconhecendo que nós, os espíritos ainda vinculados à Terra, não nos achamos isentos de imperfeições.
Levanta os caídos e ampara os que tropecem.
Não te lamentes.
Habitua-te a facear dificuldades e problemas, de ânimo firme, assimilando-lhes o ensino de que se façam portadores.
Não te detenhas no passado, embora o passado deva ser uma lição inesquecível no arquivo da experiência.
Desculpa, sem condições, quaisquer ofensas, sejam quais sejam, para que consigas avançar, estrada afora, livre do mal.
Auxilia aos outros, quanto estiver ao teu alcance, e repete semelhante benefício, tantas vezes quantas isso te for solicitado.
Não te sirvam de estorvo ao trabalho evolutivo as calamidades e provas em que te vejas, já que te reconheces passando pela Terra, a caminho da Vida Maior.
Louva, agradece, abençoa e serve sempre.
E não nos esqueçamos de que as nossas realizações constituem a nossa própria bagagem, onde estivermos, e nem olvidemos que das parcelas de
tudo aquilo que doamos ou fazemos na Terra, teremos a justa equação na Vida Espiritual.
EMMANUEL
História contada por Vovó Benta:
História contada por Vovó Benta:
Cigana Sarita
Sarita acordava sentindo o cheiro das flores que trazido pelo vento que balançava a alva cortina da janela.
O sol estava radiante lá fora e embora ela já estivesse sentindo-se bem melhor, ainda não tinha coragem de sair da cama. O quarto aconchegante na sua simplicidade, era convidativo ao descanso.
Absorta em seus pensamentos, nem percebeu a presença do enfermeiro que entrara com o seu desjejum e que parado a observava.
Olhava os pássaros que pulavam de galho em galho num festival de alegria, como a saudar a vida, quando foi desperta pelo " bom dia" de Raul.
a.. Oh...desculpa eu estava distraída.
b.. Encontrá-la acordada é muito bom. Vamos ao desjejum pois hoje nós vamos levantar desta cama e ensaiar os primeiros passos no seu novo mundo.
c.. Não me sinto capaz de caminhar ainda. Na verdade não sinto minhas pernas.
d.. Sarita, já conversamos sobre isso. É apenas impressão trazida no seu corpo mental. Você só precisa tomar uma decisão firme que quer caminhar e assim se processará.
Essas pernas que te acompanharam além túmulo são saudáveis. Foram longos anos de dor e sofrimento, mas agora tudo acabou, é preciso que se conscientize disso e reaja.
Com a paciência e disciplina de um instrutor, Raul conseguiu com que Sarita desse seus primeiros e cambaleantes passos.
E em poucos dias entusiasmada com a beleza do local, esqueceu da suposta limitação e já caminhava feliz por aquele maravilhoso jardim, que mais parecia um bosque.
Passara-se alguns anos do calendário terreno desde essa época e Sarita lembra-se ainda emocionada de sua história triste com final feliz.
Não havia como não recordar, especialmente agora que estava em treinamento naquela colônia espiritual para assumir um trabalho junto aos encarnados.
Apreensiva lembrava da manhã em que foi convidada a frequentar os bancos escolares, por seu " mestre-anfitriã
No curso, os ensinamentos todos recebidos eram perfeitamente adaptados ao aluno de acordo com as experiências trazidas e no final deste, Sarita não tinha mais dúvidas. Trabalharia nas fileiras da nova religião que se instalava no país onde vivera sua última encarnação, a Umbanda.
Pelo seu conhecimento magístico mal aproveitado, teria que direcioná-lo agora para se fazer cumprir a lei.
Em breve seria apresentada ao médium com quem trabalharia como Pomba Gira, mas de antemão já sabia que embora ele fosse umbandista, tinha preconceito com essas entidades. O desafio recomeçava.
Olhando a lua que bailava por entre as estrelas, Sarita deitada sobre a relva meditava, fazendo uma retrospectiva de sua última encarnação.
Lembra-se de sua infância feliz vivida junto de muitas outras crianças, naquela vida nômade que levava sua trupe.
A adolescência onde seus "dotes" ou poderes mágicos se acentuaram e quando começou a ser a cigana mais requisitada para ler as mãos das pessoas.
Sua tenda, onde quer que estivessem, sempre tinha freguês certo e era dela que vinha a maior renda para a sobrevivência do grupo todo.
Após febre muito forte sofrida em função de uma infecção adquirida, Sarita sentiu que seus " poderes" de adivinhação haviam sumido, mas de maneira alguma deixou aparentar isso ao grupo ou a quem fosse e daí em diante passou a fingir e cobrar mais caro por isso.
E o dinheiro fácil passou a entusiasmá-la e como sempre fora muito vaidosa, agora podia se cobrir com as jóias mais caras e deslumbrantes e vestir-se com as sedas mais finas.
Tornou-se a cigana mais respeitada e logo assumiu o comando do grupo.
A ternura angelical daquela jovem agora desaparecia, dando lugar a um radicalismo quase maldoso quando agia em defesa dos seus.
Seu povo era muito perseguido e discriminado naquelas terras e isso fazia com que Sarita procurasse ganhar muito dinheiro e para tal não media consequências, para com isso adquirir poder se impor diante das perseguições.
Numa emboscada que se fez passar por um acidente, Sarita desencarnou deixando seu povo sem líder e desesperado.
A dependência de seu povo era tamanha que não sabiam mais pensar sozinhos e a morte daquela cigana a quem consideravam quase uma deusa os pegou desprevenidos.
E nesse desespero buscavam a ajuda do espírito de Sarita, pois acreditavam que agora virara santa e que certamente, mesmo do outro lado, ela não desampararia seu povo.
Em função disso criaram cultos e os peditórios foram aos poucos, se espalhado além do povo cigano e o túmulo de Sarita virou santuário, com filas enormes de pessoas que se aglomeravam em busca dos milagres.
Ignorando a realidade do lado espiritual, não sabiam o mal que estavam fazendo aquele espírito que desesperado se via fora do corpo carnal, mas grudado nele, sentindo sua deterioração.
Em desespero total e agarrada as suas jóias com as quais foi sepultada, Sarita pedia socorro. Os amparadores espirituais lá estavam querendo ajudá-la, mas ela sequer os enxergava dentro do seu desespero e revolta pelo acontecido.
Ouvia toda a movimentação que se fazia fora de seu túmulo e por mais que gritasse, ninguém a ouvia.
Se existia inferno, o seu era esse.
Tudo aquilo durou longos e tenebrosos anos, até o dia em que seu túmulo foi assaltado durante a noite e os ladrões levaram suas preciosas jóias.
Em desespero, assistindo a tudo, nada podia fazer, restando-lhe apenas um monte de ossos. Só então se deu conta de sua verdadeira situação e lembrou do que sua mãe a ensinara quando pequena sobre a vida após a morte.
A lembrança de sua mãe a fez chorar, implorando que ela viesse tira-la daquele sofrimento.
Depois disso desacordou e só depois de muito tempo hospitalizada no mundo espiritual é que acordou, sabendo do isolamento que se fizera necessário em função das emanações vindas da terra, por causa de sua falsa "santificação"
Seu povo agora usava a imagem da idolatrada Sarita em medalhas que eram vendidas como milagreiras, além de manter seu túmulo como verdadeiro comércio visitado por caravanas vindas de lugares distantes.
Lembrava do dia em que, já curada e equilibrada pode visitar aquele lugar junto com seus amparadores, para seu próprio aprendizado, bem como das palavras sábias de seu instrutor:
a.. Filha, o mundo ainda teima em manter os mercadores do templo. Criam-se os milagreiros que após o desencarne passam a ser santificados de maneira egoísta e mesquinha, preenchendo o vazio que a falta de uma fé racional se faz no coração dos homens.
Mentiras mantidas por pastores que visando o brilho do ouro, traçam caminhos duvidosos e perigosos para suas ovelhas, dando com isso, imenso trabalho à espiritualidade deste lado da vida.
Criam uma farsa que é mantida pelo desespero de pessoas ignorantes e sofredoras, obrigando-nos a formar verdadeiros exércitos de trabalhadores com disponibilidade de atendimento a essas criaturas.
Mesmo assim, por mais errado que seja esse tipo de atitude, a Luz o aproveita para auxiliar os necessitados mantendo ali um pronto socorro.
E fora o sofrimento do espírito "santificado" que se vê vivo e impotente do outro lado, aliado a distorção comercial, esses lugares servem para que muitos espíritos encontrem ali o portal de retorno.
Sarita tentando manter o equilíbrio e as emoções, via o intenso movimento de espíritos trabalhadores, socorrendo os desencarnados que vinham em bando junto aos romeiros e observava pela primeira vez como aconteciam os chamados milagres.
Uma senhora chorosa, ajoelhada ao pés do túmulo implorava pelo espírito de Sarita a cura de sua filhinha que estava ficando cega devido a uma doença rara que exigia cirurgia caríssima, longe de suas possibilidades financeiras.
A fé dessa mulher e o a amor por sua filha eram tão intensos que de seu cardíaco e de seu coronário exalavam chispas luminosas que se perdiam no ar.
Ao seu lado, dois espíritos confabulavam analisando uma ficha com anotações e logo em seguida um deles, colocando a mão sobre a cabeça da mulher transmitiu-lhe vibrações coloridas que a acalmaram, intuindo-a a ter a certeza de que seu pedido seria atendido.
Deixando algumas flores sobre o túmulo ela se retirou.
Curiosa, foi ter com os dois jovens, querendo saber o que realmente acontecia nesses casos.
a.. Minha irmã, analisamos cada caso e dentro do merecimento de cada espírito e de acordo com a fé e sinceridade de propósitos, sempre respeitando a lei e o livre-arbítrio das criaturas envolvidas, procuramos auxiliar.
Essa senhora será procurada por um grupo de estagiários de medicina que mesmo como cobaia de seus estudos, levarão sua filha a cirurgia de que necessita, retornando a ela a visão.
b.. Ah, e certamente isso será atribuído a mim como mais um milagre.
c.. A você? - indagou contrariado um dos jovens.
d.. Sim...ah, me desculpem, não me apresentei.
Sou a própria, a cigana Sarita.
e.. Nossa, que surpresa!!! Muito prazer! Não é todo dia que se conhece uma "santa", brincou o outro.
Com um sorriso amarelo, Sarita tentou em vão desconversar, pois agora a curiosidade deles era maior do que a dela em saber detalhes de como tudo isso havia ocorrido.
E longe dali, em lugar mais propício, junto a natureza eles trocaram válidas experiências.
Mas agora tudo isso eram lembranças.
Aquele espírito em cuja última encarnação terrena viera como uma cigana que se chamava Sarita, agora no mundo espiritual se comprometia e assumir um trabalho difícil no qual sentiria de perto, novamente o preconceito dos seres humanos.
Preconceito esse tão grande e revestido de tamanha ignorância que certamente muitas vezes seria tratada como verdadeiro "demônio" sendo expulsa como tal.
Mesmo assim, sabia que teria que atuar dentro da lei e ignorando tudo isso, trabalhar com muito amor, auxiliando os encarnados a se curarem das mazelas, pois só assim curaria as suas que estavam impressas em seu átomo primordial, carecendo de urgente reparo.
Enquanto seu médium girava no terreiro ecoando uma gargalhada que avisava a chegada de pomba gira cigana, romeiros continuavam buscando no túmulo da Santa Cigana Sarita, o milagre que ignoravam residir apenas dentro deles mesmos.
História contada por Vovó Benta
Leni W.S ( inserida no livro Causos de Umbanda II - no prelo - Edit.do Conhecimento)
DONA MARIA REDONDA
Dona Maria Redonda nos fez um relato sobre a origem de seu nome.
Nossa querida preta velha nos contou que, ao contrário do que todos acham, ela não era gorda, e sim alta e magra.
Seu apelido vem de outra característica, ou melhor, de uma estória.
Dona Maria Redonda era a parteira do grupo no qual vivia, e também a pessoa encarregada de cuidar dos filhos dos escravos enquanto eles estavam na lida.
Passou sua vida criando estas crianças, e por ter esta responsabilidade foi poupada dos trabalhos escravos impostos aos negros na época.
Por ter de que cuidar de muitas crianças, costumava coloca-las em um círculo para conversar e brincar com elas.
Certa vez, na intenção de dar-lhes esperança diante do que elas e seus pais estavam vivendo, Dna. Maria Redonda disse às crianças:
" Filhos, peguem nos seus calcanhares, vejam como eles são redondos! Peguem em suas cabeças, elas também são redondas! Nossas barrigas, e até nossas bundas são redondas!!" - e as crianças deram risada.
" Olhem para o céu, o sol e a lua são redondos! Até mesmo os portugueses estão dizendo que esta Terra onde vivemos é redonda. Veja o que comemos, quase tudo é redondo.
Agora, vejam, as argolas que escravizam a nós e aos pais de vocês também são redondas, mas estas com certeza vão se desmanchar, pois são as únicas que não foram criadas por nosso pai Oxalá!".
Com estas palavras, Dna. Maria Redonda afagava os corações das crianças.
Agora sabemos de onde vem tanta doçura, e porque é tão bom deitar em seu colo e receber seu agrado!
Perguntamos a ela se havia se casado, se tinha tido uma família.
Disse que as crianças eram sua família, assim como todos com quem vivia eram como seus irmãos.
Os negros escravos tinham um sentido de irmandade muito diferente do que temos hoje.
Tinham uma sentimento de fraternidade, eram todos irmãos, unidos por sua condição, independente de serem parentes de sangue ou não.
Dna. Maria Redonda nos contou também que ela estava encarnada quando a Abolição da Escravatura finalmente aconteceu .
Sobre isso comentou:
" Filha, tive a sorte de viver para ver este dia. Mas, na verdade, a gente nem sabia o que fazer com a liberdade...
Salve nossa doce e querida Maria Redonda !!
Adriana e Robert, cambones da Mãe Lucilia Guimarães
Terreiro do Pai Maneco, na festa dos Pretos Velhos
UM DIA EM UM TERREIRO DA UMBANDA
Era dia de gira. O terreiro já estava todo limpo e preparado.
Os médiuns responsáveis pela limpeza daquele dia conversavam
alegremente.
A dirigente e as mães pequenas já haviam feito todas as firmezas e
podiam agora se juntar aos demais médiuns para um entrosamento maior.
O ambiente era tranqüilo e feliz.
Duas horas antes do início efetivo da sessão começaram a chegar
os demais médiuns pertencentes a Casa.
Uns mais efusivos que outros como ocorre em todo grupo, todos se
cumprimentam alegremente.
Faltando uma hora para o início dos trabalhos é iniciada a
palestra destinada a assistência e médiuns.
Com a palestra já quase no fim, eis que chega Dora, médium de
pouco mais de três meses na Casa.
Entra quieta e apressada, cumprimenta os irmãos de corrente com um
"Oi" geral, um sorriso amarelo e vai direto para o vestiário
trocar de roupa. Alguns médiuns se entreolham sem saber o porque
daquela irmã nunca se entrosar com eles.
Chega sempre em cima da hora da sessão, nunca se oferece para ajudar na faxina do terreiro e nem participa das obras assistenciais. Mesmo quando é sessão de desenvolvimento, entra muda e sai calada.
Essa atitude dela vem já causando algum desconforto entre alguns
médiuns, que resolvem, com a "melhor das boas intenções"
perguntar a Mãe no Santo, faltando menos de 15 minutos para o
início da sessão, se ela não sabe o porque desse
"descaso" para com os irmãos e para com a própria Casa.
A Mãe no Santo responde:
- Deixem a Dora em paz... ela tem compromissos previamente assumidos que a impedem de estar mais tempo junto de nós. Isso não significa que ela não gosta da Casa ou de nós. Por que ao invés de ficarem especulando não tentam colocá-la mais a vontade em nossa Casa?
Mas Rodrigo é curioso... e dispara:
- Mas Mãe, nem quando ela chega aqui ela fala com a gente direito...
Entra muda e sai calada. Assim fica difícil fazer amizade com ela.
- Ela é tímida. Não lhe passou pela cabeça que a sua forma
de aproximação pode assustá-la ou afastá-la? Menos julgamento,
meu filho e mais amor...
Rodrigo não gostou da resposta da Mãe, mas silenciou pois o olhar
dela lhe disse que o assunto estava encerrado, até porque a sessão
já ia começar.
- Vão para dentro do terreiro... diz a Mãe. Preciso me preparar.
Rodrigo vai para dentro do terreiro determinado a descobrir os "tais
compromissos" e se Dora era realmente tímida ou antipática.
Afinal, ele trabalhava tanto, fazia tanto pela Casa limpava, fazia
faxina, chegava cedo no terreiro, participava das aulas, palestras,
sessões de desenvolvimento... e tinha o mesmo tratamento que Dora?
Recebia da Mãe o mesmo sorriso, a mesma atenção... Não achava
justo isso. Ia dar um jeito de mostrar para a Mãe que ela estava
sendo condescendente demais com aquela médium tão inexpressiva e
indisciplinada.
Começa a sessão... os trabalhos transcorrem normalmente. Dora
incorpora pela primeira vez o seu Caboclo... Saúda o Caboclo chefe e
diz ao Caboclo da Dirigente:
- Esse Caboclo tá muito satisfeito com o que seu aparelho vem fazendo com minha filha. Ela precisa de muita orientação e amparo. Não permita que turvem os olhos e o coração do seu aparelho com
maledicências...
O Caboclo chefe responde:
- Pode ficar tranqüilo. Meu aparelho já sabe.
Ao ver que Dora havia incorporado, Rodrigo sente aumentar ainda mais a sua inveja... e pensa "Agora que ela vai ter mais atenção
mesmo... se sem incorporar nada já recebia atenção... agora
então..." Rodrigo tenta em vão escutar o que os Caboclos
estão dizendo. A sua ansiedade não permitiu que ele mesmo
incorporasse seu enviado de Oxoce. Desequilibrou-se e acabou ficando sem receber as irradiações maravilhosas de seu guia, que tenta
exaustivamente chamá-lo a razão, dizendo a seu ouvido:
- Meu filho, reflita no real motivo que se empenha tanto em ajudar na
Casa. É por humildade ou para "aparecer". A Mãe tem que
zelar por todos igualmente e é óbvio que irá se preocupar com
os que mais necessitam. Abranda o teu coração e sossega teu
pensamento para que possa fazer o que devia ser o teu primeiro objetivo aqui... praticar a caridade servindo de aparelho para mim e a tua Banda toda...
Mas nada... Rodrigo não lhe dava ouvidos. A corrente da Casa já
havia anulado a ação dos espíritos trevosos que circundavam o
terreiro, mas eles encontravam dificuldade em afastar alguns pois
estavam encontrando ressonância de sentimentos em Rodrigo que estava com a "guarda aberta".
O Caboclo Chefe, Sr. Pena Branca, foi avisado pelos guardiões o que
estava se passando. Ele olhou Rodrigo que de tão cego que estava
não percebeu o olhar do Caboclo. O sr. Pena Branca avançou em
direção a Rodrigo que cantava pontos sem prestar a menor atenção a
o que estava acontecendo a sua volta, pois o seu olhar estava fixo sobre Dora incorporada. Quando deu por conta, Sr. Pena Branca estava na sua frente... e falou:
- Curumim! Presta atenção na gira e não em médium. Presta
atenção ao seu guia...
- Mas eu não estou sentindo a vibração dele... acho que não vem
hoje...
- Ele está do seu lado! Sempre! Ele tem compromisso com você e com
a Casa. Você é que está preocupado com coisa que não é
para se preocupar e nem saber. Coisa que não deveria ser do seu
interesse. Cuida do teu e do que veio fazer aqui!
Ato contínuo eleva a mão sobre a testa de Rodrigo sem tocá-la
buscando cortar o elo de ligação com os espíritos trevosos que
desta feita insistem em atuar no mental de Rodrigo.
Rodrigo fecha os olhos e balança suavemente para frente e para
trás... o Sr. Pena Branca dá o seu brado e o Caboclo Flecheiro
incorpora em Rodrigo.
Os dois conversam. O Sr. Pena Branca pede que seja enérgico com
Rodrigo. Que o oriente a deixar os assuntos que não sejam de sua
alçada fora de seus pensamentos. Que não seja intransigente com os
irmãos, que controle a sua curiosidade e julgue menos. Que veja todos
os irmãos iguais e que se conscientize do seu papel dentro do
terreiro e dentro da Umbanda.
O Caboclo Flecheiro promete que irá continuar trabalhando mas que
Rodrigo tem o seu livre arbítrio e pede ajuda nessa tarefa. O Sr.
Pena Branca promete interceder também.
Iniciam as consultas e o trabalho transcorre com tranqüilidade.
Ao término da sessão Dora é só sorrisos. Feliz por haver
incorporado pela primeira vez o seu Caboclo, quase corre para perto da Mãe e a abraça agradecida.
- Mãe, obrigada! As suas palavras ontem me deram novo incentivo, nova vida. Renovaram o meu desejo de crescer, estudar, evoluir. Fiz tudo direitinho conforme a senhora orientou e hoje vi que não estou
louca... Cheguei aqui hoje ainda com um pouco de medo. Mas... Ele existe mesmo e a sensação é maravilhosa. Aqui é a minha Casa por que é a Casa Dele. Além do mais, hoje quando fui fazer a entrevista de emprego, me saí tão bem que já começo a trabalhar na
segunda-feira e terei mais tempo para me dedicar ao Centro e aos estudos da espiritualidade.
A Mãe sorri e responde:
- Viu minha filha? Todos nós passamos por isso, sentimos esse medo,
essa insegurança... só que alguns esquecem que um dia foram
inseguros e tiveram seus problemas também.
Nesse momento a Mãe lança um olhar significativo para Rodrigo que
abaixa a cabeça envergonhado.
Dora acompanha o olhar da Mãe e vê Rodrigo. Dirige-se a ele
sorrindo e com os olhos cheios de lágrimas, diz:
- Rodrigo, você me ajuda? Gostaria muito de ajudar na limpeza de
nosso terreiro e em todas as tarefas disponíveis, agora que arrumei
outro emprego e não trabalho mais em dia de sessão. Como posso
fazer? Falo com quem? Você sempre foi tão prestativo e atencioso
comigo... pode me ajudar?
Felizmente a excitação de Dora não permitiu que ela percebesse o
quão desconcertado e envergonhado Rodrigo estava, pois ele ouvira na
íntegra a conversa entre o seu Caboclo e Sr. Pena Branca e agora
ouvia aquilo...
A Mãe no Santo sorri. Mais uma lição havia sido aprendida por
aquele filho tão querido. Ela volta-se para o Congá e sorri ao
olhar a imagem de seu Caboclo e em pensamento diz: "Obrigada Pai!
Obrigada Umbanda pela oportunidade do aprendizado constante!"
Mensagem Inspirada por Vovó Maria Conga da Bahia
Médium Mãe Iassan
Os médiuns responsáveis pela limpeza daquele dia conversavam
alegremente.
A dirigente e as mães pequenas já haviam feito todas as firmezas e
podiam agora se juntar aos demais médiuns para um entrosamento maior.
O ambiente era tranqüilo e feliz.
Duas horas antes do início efetivo da sessão começaram a chegar
os demais médiuns pertencentes a Casa.
Uns mais efusivos que outros como ocorre em todo grupo, todos se
cumprimentam alegremente.
Faltando uma hora para o início dos trabalhos é iniciada a
palestra destinada a assistência e médiuns.
Com a palestra já quase no fim, eis que chega Dora, médium de
pouco mais de três meses na Casa.
Entra quieta e apressada, cumprimenta os irmãos de corrente com um
"Oi" geral, um sorriso amarelo e vai direto para o vestiário
trocar de roupa. Alguns médiuns se entreolham sem saber o porque
daquela irmã nunca se entrosar com eles.
Chega sempre em cima da hora da sessão, nunca se oferece para ajudar na faxina do terreiro e nem participa das obras assistenciais. Mesmo quando é sessão de desenvolvimento, entra muda e sai calada.
Essa atitude dela vem já causando algum desconforto entre alguns
médiuns, que resolvem, com a "melhor das boas intenções"
perguntar a Mãe no Santo, faltando menos de 15 minutos para o
início da sessão, se ela não sabe o porque desse
"descaso" para com os irmãos e para com a própria Casa.
A Mãe no Santo responde:
- Deixem a Dora em paz... ela tem compromissos previamente assumidos que a impedem de estar mais tempo junto de nós. Isso não significa que ela não gosta da Casa ou de nós. Por que ao invés de ficarem especulando não tentam colocá-la mais a vontade em nossa Casa?
Mas Rodrigo é curioso... e dispara:
- Mas Mãe, nem quando ela chega aqui ela fala com a gente direito...
Entra muda e sai calada. Assim fica difícil fazer amizade com ela.
- Ela é tímida. Não lhe passou pela cabeça que a sua forma
de aproximação pode assustá-la ou afastá-la? Menos julgamento,
meu filho e mais amor...
Rodrigo não gostou da resposta da Mãe, mas silenciou pois o olhar
dela lhe disse que o assunto estava encerrado, até porque a sessão
já ia começar.
- Vão para dentro do terreiro... diz a Mãe. Preciso me preparar.
Rodrigo vai para dentro do terreiro determinado a descobrir os "tais
compromissos" e se Dora era realmente tímida ou antipática.
Afinal, ele trabalhava tanto, fazia tanto pela Casa limpava, fazia
faxina, chegava cedo no terreiro, participava das aulas, palestras,
sessões de desenvolvimento... e tinha o mesmo tratamento que Dora?
Recebia da Mãe o mesmo sorriso, a mesma atenção... Não achava
justo isso. Ia dar um jeito de mostrar para a Mãe que ela estava
sendo condescendente demais com aquela médium tão inexpressiva e
indisciplinada.
Começa a sessão... os trabalhos transcorrem normalmente. Dora
incorpora pela primeira vez o seu Caboclo... Saúda o Caboclo chefe e
diz ao Caboclo da Dirigente:
- Esse Caboclo tá muito satisfeito com o que seu aparelho vem fazendo com minha filha. Ela precisa de muita orientação e amparo. Não permita que turvem os olhos e o coração do seu aparelho com
maledicências...
O Caboclo chefe responde:
- Pode ficar tranqüilo. Meu aparelho já sabe.
Ao ver que Dora havia incorporado, Rodrigo sente aumentar ainda mais a sua inveja... e pensa "Agora que ela vai ter mais atenção
mesmo... se sem incorporar nada já recebia atenção... agora
então..." Rodrigo tenta em vão escutar o que os Caboclos
estão dizendo. A sua ansiedade não permitiu que ele mesmo
incorporasse seu enviado de Oxoce. Desequilibrou-se e acabou ficando sem receber as irradiações maravilhosas de seu guia, que tenta
exaustivamente chamá-lo a razão, dizendo a seu ouvido:
- Meu filho, reflita no real motivo que se empenha tanto em ajudar na
Casa. É por humildade ou para "aparecer". A Mãe tem que
zelar por todos igualmente e é óbvio que irá se preocupar com
os que mais necessitam. Abranda o teu coração e sossega teu
pensamento para que possa fazer o que devia ser o teu primeiro objetivo aqui... praticar a caridade servindo de aparelho para mim e a tua Banda toda...
Mas nada... Rodrigo não lhe dava ouvidos. A corrente da Casa já
havia anulado a ação dos espíritos trevosos que circundavam o
terreiro, mas eles encontravam dificuldade em afastar alguns pois
estavam encontrando ressonância de sentimentos em Rodrigo que estava com a "guarda aberta".
O Caboclo Chefe, Sr. Pena Branca, foi avisado pelos guardiões o que
estava se passando. Ele olhou Rodrigo que de tão cego que estava
não percebeu o olhar do Caboclo. O sr. Pena Branca avançou em
direção a Rodrigo que cantava pontos sem prestar a menor atenção a
o que estava acontecendo a sua volta, pois o seu olhar estava fixo sobre Dora incorporada. Quando deu por conta, Sr. Pena Branca estava na sua frente... e falou:
- Curumim! Presta atenção na gira e não em médium. Presta
atenção ao seu guia...
- Mas eu não estou sentindo a vibração dele... acho que não vem
hoje...
- Ele está do seu lado! Sempre! Ele tem compromisso com você e com
a Casa. Você é que está preocupado com coisa que não é
para se preocupar e nem saber. Coisa que não deveria ser do seu
interesse. Cuida do teu e do que veio fazer aqui!
Ato contínuo eleva a mão sobre a testa de Rodrigo sem tocá-la
buscando cortar o elo de ligação com os espíritos trevosos que
desta feita insistem em atuar no mental de Rodrigo.
Rodrigo fecha os olhos e balança suavemente para frente e para
trás... o Sr. Pena Branca dá o seu brado e o Caboclo Flecheiro
incorpora em Rodrigo.
Os dois conversam. O Sr. Pena Branca pede que seja enérgico com
Rodrigo. Que o oriente a deixar os assuntos que não sejam de sua
alçada fora de seus pensamentos. Que não seja intransigente com os
irmãos, que controle a sua curiosidade e julgue menos. Que veja todos
os irmãos iguais e que se conscientize do seu papel dentro do
terreiro e dentro da Umbanda.
O Caboclo Flecheiro promete que irá continuar trabalhando mas que
Rodrigo tem o seu livre arbítrio e pede ajuda nessa tarefa. O Sr.
Pena Branca promete interceder também.
Iniciam as consultas e o trabalho transcorre com tranqüilidade.
Ao término da sessão Dora é só sorrisos. Feliz por haver
incorporado pela primeira vez o seu Caboclo, quase corre para perto da Mãe e a abraça agradecida.
- Mãe, obrigada! As suas palavras ontem me deram novo incentivo, nova vida. Renovaram o meu desejo de crescer, estudar, evoluir. Fiz tudo direitinho conforme a senhora orientou e hoje vi que não estou
louca... Cheguei aqui hoje ainda com um pouco de medo. Mas... Ele existe mesmo e a sensação é maravilhosa. Aqui é a minha Casa por que é a Casa Dele. Além do mais, hoje quando fui fazer a entrevista de emprego, me saí tão bem que já começo a trabalhar na
segunda-feira e terei mais tempo para me dedicar ao Centro e aos estudos da espiritualidade.
A Mãe sorri e responde:
- Viu minha filha? Todos nós passamos por isso, sentimos esse medo,
essa insegurança... só que alguns esquecem que um dia foram
inseguros e tiveram seus problemas também.
Nesse momento a Mãe lança um olhar significativo para Rodrigo que
abaixa a cabeça envergonhado.
Dora acompanha o olhar da Mãe e vê Rodrigo. Dirige-se a ele
sorrindo e com os olhos cheios de lágrimas, diz:
- Rodrigo, você me ajuda? Gostaria muito de ajudar na limpeza de
nosso terreiro e em todas as tarefas disponíveis, agora que arrumei
outro emprego e não trabalho mais em dia de sessão. Como posso
fazer? Falo com quem? Você sempre foi tão prestativo e atencioso
comigo... pode me ajudar?
Felizmente a excitação de Dora não permitiu que ela percebesse o
quão desconcertado e envergonhado Rodrigo estava, pois ele ouvira na
íntegra a conversa entre o seu Caboclo e Sr. Pena Branca e agora
ouvia aquilo...
A Mãe no Santo sorri. Mais uma lição havia sido aprendida por
aquele filho tão querido. Ela volta-se para o Congá e sorri ao
olhar a imagem de seu Caboclo e em pensamento diz: "Obrigada Pai!
Obrigada Umbanda pela oportunidade do aprendizado constante!"
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